janeiro 23, 2006

Amona lisa

Portugal é, agora, uma sala de chuto assistido.
Continua a chutar porque gosta mais de se alhear no acidente episódico do que empenhar-se num esforço oxigenado.
Chuta porque ignora que a sensação efémera que lhe traz o gozo frio do castigo é, em si mesma, um vício que incha quem castiga e seca a veia de quem aplaude.
Chuta na Sala de triagem da urgência do progresso prometido mas, como chuta sempre para trás, prefere esperar secretamente que a bola seja Oval e que, num capricho, escape ao guardião até bater na rede.
Chuta assistido, porque supõe ter direito a chutar com dignidade. E é assistido com ânsia para ver se se mantém chutando emprego a quem guarda as chaves da sala.
Ontem, de garrote tenso nos dentes, pressionou o êmbolo da seringa, só até ao primeiro esguicho. Hoje está já de agulha cravada. Esta injecção vai durar 10 anos.

A Loira recusou a metadona, que é um chuto disfarçado contra ventos e marés.

A adrenalina vem aí, por decreto selado.

Espera por mim na esquina

… Assim começou a minha história contigo, convosco, connosco.
Despeço-me, partilhando como sempre partilhei, o que uma brisa suave me sussurra ao ouvido, embalando os dedos.
Ainda e sempre o mar, reflectido em nós vaporosos que se desenrolam ao vento. Ainda e sempre as mãos, salgadas por não sei que lágrimas derretidas ao sol. Guardar-te-ei para sempre, na ponta dos dedos, fotografia digital.

???? - 2006

A noite veio e com ela o cacimbo frio na cama do desespero. Acordar sem ter adormecido.
Pecadores arrependidos viram-na deambular junto ao rio à procura de um consolo boémio. Dizem que trazia um saco com bolos ocos cobertos de calda de açúcar e um pacote de açúcar em pó. Aqueles bolos…
Sentou-se na cama oval, abriu o saco no colo, empanturrou-se, e de um golpe seguro, aspirou o pó. Até ao fim da linha.

janeiro 16, 2006

Finnish dream

"O resultado contradiz todas as sondagens dos últimos seis meses que lhe davam a maioria absoluta à primeira volta." - in DN, 2005.01.16
Disseram-me que o sonho de Sócrates é fazer de Portugal a nova Finlândia da Europa.

janeiro 11, 2006

SS 2014

Sempre tive um problema com homens de cabelo branco cortado ‘à escovinha’... que o Fernando vem agora confirmar.
Então estamos a fazer sacrifícios para nada? As reformas vão mesmo acabar ou ele é que quer acabar com o homem das reformas?

janeiro 10, 2006

Lembrete

A Loira também não esquece as palavras do Professor Cavaco num comício há uns anos no Alentejo quando disse que ‘os alentejanos podiam ser tão bons como os Portugueses’.
Talvez por isso nos ande a tentar convencer que deveríamos ser tão bons como os Espanhóis. Se o Cavaco é português, então eu quero ser espanhola. Pim, pam, pum.

Altos patrocínios

Era para nem se ter lançado na corrida.
Não tinha e não queria patrocínios, além do de Maria.
Assim começou Aníbal, depois de uma longa travessia do deserto.
E o deserto não esquece…

janeiro 06, 2006

Onde fica o botão?

Como se desligam estas imagens sempre iguais que nos invadem a casa sem pedir licença? Dou-me conta que sei pelo menos o nome de 5 cidades iraquianas, que já reconheço a paisagem e as caras dos civis que sucumbem todos os dias naquelas ruas de terra batida.
Alguém sabe voltar atrás? A natureza novamente defraudada, as mortes assinadas por um ditador tornam-se de repente menos negras do que aquelas que levam a chancela do poder externo.
Entretanto, Sharon definha e todos rezam pela alma do grande pacifista. O mundo não passa sem um muro. É a arte, estúpido!

dezembro 30, 2005

Prémio Loiro do Ano

Para o Superministro Diogo Freitas do Amaral, por ter sobrevivido tanto tempo, por ter salvo um traficante de drogas e um toxicodependente, por ter conseguido trazer o Aga Khan a Portugal.
É a política externa portuguesa de regresso ao esplendor e a glórias de outrora.

Prémio Loira do Ano

And the Oscar goes to...
Teggy Caeiro-Mouse, por dar vida a mais um aborto pró-americano.

dezembro 28, 2005

O renascer da lendária cultura do ‘ver para crer’

Há pessoas assim que, quando vão para uma entrevista e não lhes dão as perguntas com antecedência, têm rasgos de espontaneidade que, uma vez passado o crivo dos assessores, se apressam a desmentir na próxima aparição pública.

Quem não tem o dom da ubiquidade nem a veleidade de acompanhar in loco tudo o que possa vir a ser notícia, terá que se ir habituando à ideia de que a televisão – além das suas sacrossantas memórias biográficas, claro - é o único médium em que se pode confiar quando se tratar de supostas notícias sobre Cavaco Silva.

Como bom Presidente que quer ser, mais próximo do povo analfabeto que somos, Cavaco já deixou o mote. Rendamo-nos, pois, ao facilitismo atordoante da televisão e dos reconfortantes ‘eu nunca disse isso’.

Caixa negra

Não descansam enquanto não as encontram e, uma vez encontradas, parecem não servir para nada. Nunca ouvi um único relatório sobre o seu conteúdo. Começo mesmo a desconfiar que não passam de mais uma daquelas invenções humanas que só servem para desangustiar, para nos dar a sensação de que tudo é controlável.

Numa noite mal dormida, sonhei com caixas negras lançadas ao mar, caixas negras que encerravam tudo o que nunca consegui dizer sobre a injusta justiça dos homens, sobre arguidos e presumíveis inocentes, providências cautelares, recusas de juízes, prisões preventivas, prazos, recursos, mais prazos, e mais recursos. Com a mediatização de processos judiciais, um homem transforma-se, malgré lui, em perito destas coisas.

Recordo-me de ter escrito numa dessas caixas negras, como que para justificar a ausência de palavras quando o silêncio era atitude proibida. Do que escrevi pouco me lembro, a não ser da confiança depositada em quatro paredes para que transmitissem ao verdadeiro destinatário as palavras que enfim libertei sem receios.

Até ao teu regresso é natal

Natal atípico, sem regresso à terra, ao musgo fresco, à lareira, ao cheiro a flor de laranjeira. Frente ao mar, sem luar.
De repente o teu regresso, tu que partiste num telemóvel roubado, numa tarde abrasadora de Verão. Tu e as nossas conversas de quinta de manhã, tu e os teus 'miúda' com ar paternalista.
Enfim revelada a utilidade daquelas mensagens de grupo que se enviam quase por obrigação.

Post-it

Leva-me contigo.
Quero-me perder nas dunas do teu corpo, no calor da tua boca.
Sentar-me à sombra das estrelas da tua pele, matar a sede no orvalho dos teus olhos.
Derreter o frio no fogo do teu abraço.
Manda a lua avisar-me da hora da partida e leva-me contigo.

dezembro 19, 2005

Memento homo

Uma palavra de agradecimento para o nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros que arrecadou para o país uma quantia considerável nas próximas perspectivas financeiras da UE. Senti a sua ausência no recolher dos louros…
Freitas fez a fita, os Ingleses lá acabaram por ceder. Muitos outros fizeram fita e os Ingleses acabaram por ceder. Ou não.
Salvou-se a UE. Salvou-se também o cheque inglês por mais três anos e criaram-se dois novos cheques, para Holandeses e Suecos.
Sem acordo, teria provavelmente sido o fim de um certo projecto europeu, disso não duvido.

dezembro 14, 2005

Natal dos Hospitais

Anita Matrona de Boliqueime 0 - Anushka Operária e Prostituta portanto 1

dezembro 13, 2005

Por falar em festas...

Para noites frágeis:

Érika-Amoreiras lindissima corpo escultural alto nível privado estacionamento.

ou

Marta africana de sonho! exótica... sensual... 23 A... luxo! comprove! ?

Canção de Lisboa

Terça, quarta, sexta.
E domingo sempre em festa.

dezembro 10, 2005

O mar sem ti

Mar picado, tempestade de sal. Palavras amargas, temperadas ao sabor da maré em encontros adiados sob o sol de Inverno.
No cais, presença ausente de quem sente o fim.
No mar sem ti.

dezembro 06, 2005

Amigável pela Paz no Mundo

Iceland 0 - Joyland 0

God bless America, always

Tenho andado a ler uns artigos extraordinários que defendem os métodos de tortura da CIA. Os argumentos são básicos, podendo resumir-se ao bíblico olho por olho, dente por dente: estivéssemos nós nas mãos de terroristas sanguinários, não teríamos qualquer tratamento especial. Afinal, aquilo é tudo para nosso bem, ou não encarnassem os EUA o Bem Supremo. Assim se poupam muitas vidas civis, sobretudo europeias, ao que parece.
Vêem-me à memória comparações hitlerianas facilitistas, técnicas consagradas de eugenismo e soluções finais para a SIDA. Mas limito-me a perguntar onde param os direitos humanos nesta defesa do indefensável.

Ainda a pérfida Albion

Contra algumas expectativas de corredor, Freitas do Amaral convoca uma conferência de imprensa para esclarecer que, da leitura superficial da proposta britânica para as perspectivas financeiras da UE, ressalta uma injustiça flagrante. Segundo ele, desde Abril que tem vindo a praguejar contra os pérfidos que querem tirar os fundos aos pobrezinhos portugueses. Momentos houve, porém, que parecemos satisfeitos com as dádivas luxemburguesas… Adiante.
À comitiva portuguesa junta-se agora José Manuel Barroso, o renegado. Achará ele que na era da globalização ninguém percebe o que ele diz em Português e que pode tecer aqueles comentários ao seu amigo Blair em público?
Conseguimos, ainda assim, ser citados pelo Ministro Straw. Vitória ou humilhação?

dezembro 05, 2005

Essa é boa!...

Quem é que me explica este súbito consenso nacional politicamente correcto de que os debates televisivos entre os candidatos presidenciais não têm influência no desfecho das eleições? Não têm desfecho nas eleições? O que tem efeito, então? Ver quem grita mais alto que quer unir os portugueses? Que estamos num período depressivo do regime e das instituições e que é preciso injectar ânimo ou estima nas pessoas e confiança e credibilidade no sistema?

Não há nenhuma outra eleição que tanto dependa do confronto personalizado entre as propostas apresentadas. Interessa, certamente, a comparação de projectos, de ideias e de respostas. Mas perceber os sinais que nos são transmitidos em simultâneo, no mesmo local e nas mesmas condições, por dois dos candidatos é, tem-no sido desde que há democracia, fundamental nas escolhas dos eleitores.

As últimas campanhas (de todo o género) têm tentado acompanhar este facto modernizando-se: troca-se o papel dos panfletos pelas sms e aposta-se sobretudo no trabalho de imagem e na personalização dos projectos.

E sejamos claros: se um debate não é clarificador, de três uma: ou os candidatos não conseguiram difundir a mensagem, ou a mediação fulanizou o diálogo, ou a mensagem é a mesma entre os dois.

Duas ideias. Primeira: as pessoas não têm disponibilidade para campanhas (ainda por cima para campanhas que se sucedem a um ritmo frenético) e concentram os esforços das suas escolhas na tv e em debates – estão no seu direito e o que é preciso é orientar o debate político para esse meio. Segunda: se tudo o que disse acima for mentira então amanhã ninguém gastará página de jornal a analisar o debate nem cavalgará a onda da descolagem da candidatura de Manuel Alegre porque o Professor Silva salivou dos cantos da boca e não ganhou por Knock-out.

novembro 29, 2005

Novela dos dias que correm

Imagine uma cena no Chapitô num fim de tarde entre Abril e Agosto em que um casal, à primeira vista de estranhos, fita o Tejo sem falar. Imagine também que ela está em pulgas para o ouvir pedi-la em casamento e ele mortinho por sair daquela cena. Imagine ainda os seus diálogos cerebrais:
Ele, olhando-a com aquele ar de quem não percebe o que está ali a fazer: O que tu queres sei eu…
Ela, doida por ouvir o pedido: Estes sinais, a perna a tremer, a mão a segurar a cabeça… É hoje, não tenho dúvidas.
Ele, descruzando a perna e coçando o lábio: Tenho que me despachar a beber este whisky.

Já alto e bom som:
Ele: Desculpa, não aguento mais. Queria…
Ela: ...eu também não…mas diz, diz.
Ele: Queria que me ajudasses a organizar uma festa simples para o meu casamento.

Bomba. Acham que ela ajuda? Acham que ela não vai contar às amigas e às revistas todas que era ela a eleita, a mulher da sua vida, e que afinal ele vai casar com uma paixão antiga qualquer? Acham que ela não aparece no dia do casamento vestida de branco imaculado?

Agora pare, rebobine tudo e imagine um Primeiro-Ministro algo autoritário a falar com um poeta de Assembleia algo sonhador.

Agradecimento Sanex

Chegado o mês de Dezembro, começam a escassear bens de primeira necessidade nos Ministérios, como o material de economato ou o sabonete líquido para as mãos. Aproveita-se o papel reciclado, esquece-se a folha dupla, adopta-se o sabão azul e branco.
Este ano descobri a responsabilidade social das empresas e o sabonete líquido voltou. Agradecimento geral a quem merece, sobretudo pelo efeito surpresa.

novembro 25, 2005

“A ofensiva portuguesa contra o Reino Unido”

Até hoje me arrependo de não ter comprado uma t-shirt a dizer ‘Eu não leio Pacheco Pereira’ que há uns anos vendiam na Feira do livro. Ontem li Pacheco Pereira e não posso deixar de expressar a minha preocupação.

A saga já tem resposta e esta, passando alguns erros de datas, quase convence. Quem lá esteve, a 17 de Junho de 2005, sabe bem o que se passou e o que se passou desde então, e resta-nos concluir que o nosso Ministro não deixa de ter razão e que muito mais se podia dizer, incluindo sobre uma certa anglicização da acção externa da UE.
Pecou por ter lançado a ofensiva, naquele tom, nesta altura em que ainda resta alguma esperança sobre as perspectivas financeiras. Tê-lo-á feito não por ser um ‘europeísta extremo’, como lhe chama Pacheco Pereira, mas por duas razões bem mais simples. Por um lado, parece ter alguma dificuldade em perceber a diplomacia europeia actual, os seus timings, as suas negociatas. Por outro - e talvez seja este o argumento com maior peso - , já se apercebeu que uma das grandes prioridades da política externa nacional (‘sacar os fundos’) está seriamente comprometida pela atitude da Presidência britânica.
Dammage control ex ante.

Happy Birthday Mr. President

Ando há mais de uma semana a preparar este post e ainda não arranjei nada de positivo para dizer sobre o José Barroso (parecem-me ser os únicos elementos consensuais no nome de Durão Barroso pré e pós Comissão Europeia). Ao ver ontem aquele José cheio de si, do alto do seu Berlaymont, com o mesmo sorriso e o mesmo risinho histérico de outrora, a única coisa que se me oferece dizer é que, para bem da imagem do país, ele que continue a tentar, seja lá o que for. Nem que seja dizer superficialidades como ‘temos que aproveitar a globalização’ ou a pôr velinhas para o espírito europeu.

novembro 21, 2005

Todas as cartas de amor são ridículas

O cheiro a lareira traz o cacimbo, mas a distância inexistente impede o ‘gosto tudo de ti sempre até ao fim do mundo’. Não há momentos para o dizer boca a boca, enviar milhões e milhões de beijos, exigir lembranças.
A verbalização da distância, da saudade, do amor. Da guerra acho que também chegou a altura de falar e de ouvir e de escrever e de ler, mesmo e sobretudo envolto em cartas de amor ridículas.

Recomendo, sem saber bem porquê. Talvez para impedir que 'entremos tão depressa nessa noite escura’.

novembro 15, 2005

Anti-Público

Já lá vai o tempo em que éramos o jornal que líamos. Já não é assim, e por um lado ainda bem porque ao aumentar a nossa liberdade, aumenta o sentido crítico. Fiel ao Público durante muitos anos, desisto. A multiplicação de croniquetas ou a débil cobertura do internacional seriam as razões mais válidas para o fazer. Mas o que me faz desistir são as infindáveis gralhas, as trocas nos nomes, os títulos cortados.
Era bom que alguém percebesse que ler um jornal assim é como comer um prato onde vamos descobrindo a cada garfada cabelos e insectos vários.

Manifestamente Europa

Constatação quase unânime: a Europa voltou a morrer.
Raptada na Grécia Antiga, tem vindo a morrer século após século, sendo talvez as datas fatídicas que me ocorrem mais rapidamente 1 de Setembro de 1939, 5 de Março de 1946, 22 de Janeiro de 1972, 4 de Dezembro de 1999, 29 de Maio e 1 de Junho de 2005, 17 de Junho de 2005, 27 de Outubro de 2005.
Europa, uma história de mortes e adventos intermitentes. Morre todos os dias sob as penas afiadas dos jornalistas, nas mãos da dupla Blair-Barroso, no arame farpado de Ceuta e Melilla, nas cités de Paris. Matámos o modelo social europeu, matámos o grande desígnio europeu.
Ainda hoje a Europa morreu na fronteira de Rafah quando, após meses de contactos entre Europeus, Palestinianos e Israelitas, a Sra. Rice aparece e realiza o milagre que podia ter sido nosso. Não temos política interna, não temos política externa. Não temos Europa.
E, no entanto, a culpa é sempre da Europa, é a Europa que não consegue crescer, é a Europa que não consegue defender o seu modelo social, é a Europa que não consegue integrar os seus imigrantes, é a Europa que não se consegue afirmar face à hegemonia norte-americana. Está condenada.
E nós condenados estamos a tê-la cada vez mais viva na consciência de todos, mesmo daqueles que se insurgem contra ela.

novembro 10, 2005

Ao segundo dia...

...vi-te. Passaste por mim 3 vezes, estive na tua sala, toquei o teu sininho. Pareceste-me tão estrangeiro que não senti qualquer vontade de te abordar, nem com um simpático 'Keep up the great work, Mr. Barroso'.

Foto prometida para o regresso a Lisboa.

novembro 07, 2005

Prioridades chave-na-mão

Ouvi dizer que a integração europeia era uma prioridade da nossa política externa. Ouvi dizer que a nossa grande prioridade em termos europeus eram as perspectivas financeiras. Ouvi dizer que está hoje a decorrer em Bruxelas um Conselho de Assuntos Gerais e Relações Externas onde se discutem as perspectivas financeiras. Ouvi dizer que, como tem sido hábito, S. Exa. o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros se escusou a fazer a viagem.
Se o senhor é Ministro, ainda por cima dos Estrangeiros e não gosta/não quer/não pode viajar, adeqúe-se o estatuto ao perfil e faça-se do ‘vá para fora cá dentro’ uma linha de força da nossa política externa. Não andem é a falar de política externa e de Europa e de referendos quando os exemplos ao mais alto nível já não deixam margem de dúvida sobre as prioridades.

novembro 04, 2005

Interferências

A Polícia Jidiciária de Moçambique? à Busca de um tabuleiro de xadrês? Na residência de Jorge Guebuza? Coelho? Em Cahora Bassa???

Edição RTP

novembro 03, 2005

Recordar é viver

Embora não vá fazer campanha (pergunto-me, aliás, por que aceitou ser capa da Flash), Maria Cavaco Silva tem o que falta a muitos Portugueses: memória. Tinha um ano quando perdeu a mãe e nunca mais esqueceu aquela dor que a tem acompanhado durante toda a vida.
Para Portugal, foram dez anos de recalcamentos gástricos, de miopia estratégica, de autismo intelectual, de cancro obstinado. Agora o alzheimer, em breve a depressão.

outubro 31, 2005

Pedido de divulgação - Conferência ‘Portugal sem cavaquismo’

9.30 – 11.30 – Economia estúpida vs ditadura das finanças
- A economia como ciência não exacta e as reformas económicas enquanto meio
- Dinamizar o Estado Providência
- A sociedade do conhecimento e o conhecimento da sociedade

Debate aberto. Moderador: amigo de Paulo Casaca.

12.00 – 13.00 - A longevidade dos tabus
- Honestidade, competência e rigor como agentes do sexo tântrico
- Não basta ser Professor Doutor para ensinar
- O objectivo de um funcionário público não é morrer antes da idade da reforma

Debate caloroso. Moderador: amigo de Paulo Casaca.

15.00 – 17.00 – E a cultura, estúpido?
- À mesa com o bacalhau e o bolo-rei
- Há música portuguesa para além do Fado e do corridinho
- Nem todos os caminhos vão dar ao pulo do lobo

Debate aceso. Moderador: amigo de Paulo Casaca.

Nação senhora das tempestades*

Recordamos 1755 com a mesma parcimónia com que ouvimos um fado ou lembramos glórias perdidas. Foi melhor assim, concluímos languidamente. A figura tão portuguesa daquilo a que os anglo-saxónicos chamam blessing in disguise, sempre presente, sempre pungente, sempre descrente.

* Plágio descarado da obra, nunca do homem.

Sabes bem

Sabes bem que partirei sem me despedir, que não ajudarei a apanhar a lenha para um fogo frio de madeira velha que cheira a whisky e a chocolate. Sabes bem que as palavras não voam, que o vento não fala, que as gaivotas não cantam. Sabes bem que a partir de ontem, amanhã já é hoje e hoje não é nosso.

Sabes tão bem, segreda-lhe ao ouvido.

outubro 28, 2005

Vá treinando 2009

A pedido de várias famílias e após ampla concertação com a CNE, estará disponível em cada mesa de voto um boletim alternativo para os cidadãos que se inclinam para o voto em branco.
A iniciativa ‘Vá treinando para 2009*’ dispõe já de 5 milhões de boletins, nos quais poderá pôr a cruzinha em José Manuel Barroso, António Guterres, Joana Amaral Dias, todos da família ‘Perdoa-me’, António Borges, António Vitorino d’”A facada alegre nas costas”, Isaltino de Morais, Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro, d’‘Os Sopranos’, ou Bernardino Soares, ‘A mudança na continuação’.
Não se esqueça de pedir o seu.

* Projecção feita com base nos relatórios clínicos de 2 dos principais candidatos.

outubro 26, 2005

Best kept secret

Acordo invariavelmente por volta das 10h, depois de inúmeros gestos automáticos e rotinas cansativas. Gosto de fazê-lo calmamente, ao meu ritmo, sem solavancos e sobretudo sem ti. Acordo contigo todos os dias. Pior: sonho contigo e ao acordar ainda lá estás.
A tua juba desalinhada, as tuas interjeições em várias línguas, os teus neologismos descabidos. Ninguém te ensinou que a auto-afirmação é sinal de pobreza intelectual, tu que até podes ser um gajo porreiro?
Deixa-me dormir.

outubro 25, 2005

Reformismos sem caviar

Vi-te hoje por entre o nevoeiro que se abatia sobre Lisboa. Tinhas uma tocha que nos ia alumiando o caminho. É sempre em frente, segredavas. Viro à esquerda? Não, mantenha-se na faixa central e sempre em frente. Mas não há um momento em que tenho que virar à esquerda? Faixa central e sempre em frente.
Quando um jornal como o FT faz a apologia de um Governo de esquerda é com certeza mais que impulse. José Sócrates parece lançado como o novo guru da terceira via, o reformista bem-comportado, mais reformista que o próprio Blair, pese embora o facto do nosso Estado social não ter nunca chegado ao nível do do Reino-Unido.

Novo ‘Euromilhões só lucro’

Parece que anda aí uma nova técnica de enriquecimento rápido e sem impostos.
A pessoa em causa - de etnia cigana - chega de Porsche Cayenne, muito aprumado, para fazer o contrato de promessa de compra e venda num empreendimento de luxo. Entrega um sinal exorbitante.
Dias depois aparece no dito prédio com a família toda, bisavós, mulheres, filhos, sobrinhos e bastardos ramelosos e ranhosos. Lança o pânico pandémico no hall de entrada do prédio, quase arma os varões para estender a roupa.
Os outros futuros proprietários queixam-se, ameaçam não comprar os imóveis. O que faz numa situação destas o pobre proprietário da fracção à venda? Desiste do negócio e tem que pagar o dobro do sinal ao cigano. Só lucro.
Conversa de taxista, ça va de soi.

outubro 24, 2005

O senhor que se segue

Começo a acreditar na capacidade cirúrgica de José Sócrates em conduzir purgas e que pouco restará em breve dos pseudo-representantes do ideal democrático e republicano português.
Junte-se à lista mon ami Freitas do Amaral, por favor.

Uma família feliz

Depois do lanche com os netinhos e do jantar caseiro com a Maria, Cavaco dedica-se à pintura abstracta de bandeiras para o seu ‘one man show’. As estatísticas garantem que a produção já se está a aproximar da chinesa, esperando Cavaco dar assim ânimo à deprimida economia portuguesa.

Soares-Cavaco/Chirac-Jospin

As notícias sobre uma eventual recandidatura de Jacques Chirac e um regresso de Lionel Jospin à política activa confirmam um certo Sebastianismo napoleónico-gaullista e o deserto em que se transformou a política europeia.

outubro 18, 2005

A esquerda renasce

Ando com dois apêndices metálicos permanentemente agarrados às mãos há, fez Segunda-Feira passada, sete semanas. Durmo com eles ao lado da cama. Como com elas (muletas é feminino) na cadeira ao lado. Não há pedaço da minha vida diária, inclusivamente da mais íntima, que elas desconheçam. Até as baptizei: Dádiva Maria (a da esquerda) e Bênção Serena (a da direita).

Hoje, nas aulas, o professor pediu-me para ir ao quadro (meio da sala). À frente de toda a gente… Lá chegado arrancou-me das mãos primeiro a Bênção, depois a Dádiva. Atirou-as, com desprezo, para o chão… fora do meu alcance. Perdi qualquer noção de apoio. E diz-me ele:
- Relaxe!
Respondi-lhe:
- Você é parvo?!
O professor respondeu que isso não era relaxar.
Depois de cumpridos os exercícios todos (bicla incluída) devolveu-me a Bênção, primeiro, e a Dádiva, depois. Mas as minhas amigas têm agora uma nova companhia sempre que tocam no chão: O MEU PÉ ESQUERDO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

outubro 17, 2005

Benchmarking e troca de boas práticas

Foi-se ao Dubai buscar o Ivo Ferreira; aproveitou-se a visita de Chavez à Europa para meter uma cunha pelo Luís Santos.
E eis que o homem que mandou editar constituições de bolso em várias línguas para que o povo estivesse ciente dos seus direitos nos vem dar a nós, avançada democracia europeia, a maior das lições. Não está nas mãos do Governo, desculpa-se, é matéria da competência do poder judicial. E mais. Na Venezuela, as pessoas não ficam presas em condições desumanas durante três anos sem julgamento; o senhor está bem, em prisão domiciliária, gozando de todas as mordomias.
É a vida.

Prioritário. Cifrado. Secreto.

Para o Dr. SA, este post escrito durante o horário de expediente:

0-2 e 0-1.

Portishead a embalar a lua cheia e um fim-de-semana quase perfeito.

outubro 14, 2005

5.19.20.1.4.15 4.1 14.1.3.1.15

5.14.17.21.1.14.20.15 15 16.15.22.15 10.15.7.1 19.15.4.21.11.21, 2.1.18.1.12.8.1.13-19.5 15.19 14.21.13.5.18.15.19.

outubro 12, 2005

Sem-risco II

Vivi em Paris num dos momentos mais fortes da contestação ao governo de Alain Juppé, em Dezembro de 1995. Durante 15 dias, andava quase 3 quilómetros a pé porque 'suite à un mouvement social, le trafic est interrompu dans le métro'. Não era só o metro; as greves acumulavam-se, restando ao Governo negociar.
Aqui, como cada um tem o seu risquinho, parecem não perceber que, juntando todos, o risco aumenta para o Poder.

Sem-risco I

Sempre me atraíram as profissões de risco, do tipo inspector da PJ, observador internacional ou motorista do autocarro do Glorioso. O risco seria sempre compensado pela adrenalina e pela realização proporcionadas por esse mesmo risco, o cansaço pela experiência acumulada.
Afinal descubro que não há vocação, há apenas reconhecimento de riscos e de vidas profissionais curtas através de privilégios especiais. Bem vistas as coisas:

Bombeiro. Risco/doenças/envelhecimento precoce.
Enfermeiro. Risco/doenças/envelhecimento precoce.
Prostituta. Risco/doenças/envelhecimento precoce.
Taxista. Risco/doenças/envelhecimento precoce.
Político. Risco/doenças/envelhecimento precoce.
Professor. Risco/doenças/envelhecimento precoce.
Astrólogo. Risco/doenças/envelhecimento precoce.
Juiz. Risco/doenças/envelhecimento precoce.
Manicure. Risco/doenças/envelhecimento precoce.
Pescador. Risco/doenças/envelhecimento precoce, etc., etc.

- O que queres ser quando fores grande?
- Desempregado reformado. Sem riscos.