janeiro 23, 2006

Amona lisa

Portugal é, agora, uma sala de chuto assistido.
Continua a chutar porque gosta mais de se alhear no acidente episódico do que empenhar-se num esforço oxigenado.
Chuta porque ignora que a sensação efémera que lhe traz o gozo frio do castigo é, em si mesma, um vício que incha quem castiga e seca a veia de quem aplaude.
Chuta na Sala de triagem da urgência do progresso prometido mas, como chuta sempre para trás, prefere esperar secretamente que a bola seja Oval e que, num capricho, escape ao guardião até bater na rede.
Chuta assistido, porque supõe ter direito a chutar com dignidade. E é assistido com ânsia para ver se se mantém chutando emprego a quem guarda as chaves da sala.
Ontem, de garrote tenso nos dentes, pressionou o êmbolo da seringa, só até ao primeiro esguicho. Hoje está já de agulha cravada. Esta injecção vai durar 10 anos.

A Loira recusou a metadona, que é um chuto disfarçado contra ventos e marés.

A adrenalina vem aí, por decreto selado.