novembro 29, 2005

Novela dos dias que correm

Imagine uma cena no Chapitô num fim de tarde entre Abril e Agosto em que um casal, à primeira vista de estranhos, fita o Tejo sem falar. Imagine também que ela está em pulgas para o ouvir pedi-la em casamento e ele mortinho por sair daquela cena. Imagine ainda os seus diálogos cerebrais:
Ele, olhando-a com aquele ar de quem não percebe o que está ali a fazer: O que tu queres sei eu…
Ela, doida por ouvir o pedido: Estes sinais, a perna a tremer, a mão a segurar a cabeça… É hoje, não tenho dúvidas.
Ele, descruzando a perna e coçando o lábio: Tenho que me despachar a beber este whisky.

Já alto e bom som:
Ele: Desculpa, não aguento mais. Queria…
Ela: ...eu também não…mas diz, diz.
Ele: Queria que me ajudasses a organizar uma festa simples para o meu casamento.

Bomba. Acham que ela ajuda? Acham que ela não vai contar às amigas e às revistas todas que era ela a eleita, a mulher da sua vida, e que afinal ele vai casar com uma paixão antiga qualquer? Acham que ela não aparece no dia do casamento vestida de branco imaculado?

Agora pare, rebobine tudo e imagine um Primeiro-Ministro algo autoritário a falar com um poeta de Assembleia algo sonhador.