julho 26, 2005

Unforgivable

Eu sei que prometi que não falava mais disto, que aceitava tudo, que te deixava partir sem aquele beicinho tão meu. Desculpa, mas não me consigo habituar. Cada um tem o que merece. Que piada, num país onde o mérito não é critério para nada...
Pela última vez: vai tu. O sacrifício não pode ser assim tão grande; o luxo é bem maior do que em Bruxelas e não tens metade do trabalho. Eu pago-te um suplemento, vai. Faz isso por nós, por favor.

O Magnífico Ministro - Fora de cena

Comunicado
Motivos pessoais, familiares e cansaço levam à suspensão sine diem d'"O Magnífico Ministro". A Loira e toda a equipa técnica envolvida nesta super-produção lamentam o sucedido e comunicam a sua retirada da vida artística activa.

julho 22, 2005

O Magnífico Ministro - 1º ACTO; Cena 3

Personagens
Magnífico Ministro
Director da Maxmen
Lata de Coca Cola Light

A cena tem lugar no quarto do Magnífico Ministro. Quem leu o 'Memorial do Convento' poderá imaginar um quarto joanino e o Magnífico Ministro deitado no seu leito, com a colcha tapando-lhe a cabeça, recozendo cheiros e secreções.
Magnífico Ministro
Aiiiiiii...
Director da Maxmen
O que lhe dói?
Magnífico Ministro
Tuuudo... Passa-me aí o saco de água quente.

Director da Maxmen
Não tem calor?
Magnífico Ministro
Passa-me aí a Coca Cola Light.
Director da Maxmen
O que é que enfiou aqui?
Magnífico Ministro
É o termómetro.
Director da Maxmen
Não sabe que estes termómetros já não se usam?
Magnífico Ministro
Dá cá a Coca Cola.
Director da Maxmen
Vou-me embora.
Magnífico Ministro
Aiiiiiiiiiiii...

julho 21, 2005

O Magnífico Ministro – 1º ACTO; Cena 2

Personagens
Magnífico Ministro
Thopinha de matha (ler à inglesa nome e falas desta personagem)
Lata de Coca Cola Light
Magnífico Ministro
Chamem-me alguém que saiba gravar na pedra. Vou escrever um artigo de opinião.
Thopinha de matha
Talveth não theja boa ideia.
Magnífico Ministro
Estou totalmente de acordo consigo. Mas a minha opinião pessoal diz-me que o faça.
Thopinha de matha
Cuidado. Thabe o que acontetheu ao outro…
Magnífico Ministro
Eu já dei entrevistas… e inteligentes.

Thopinha de matha
Thim, math daí a escrever um artigo.
Magnífico Ministro
Nunca leu os meus artigos? Aborto, Iraque. Aconselho.
Thopinha de matha
Não nos últimos tempos. Aristóteles poderá não gostar. E thabe o que the diz por aí: a escolha do castigo andaria entre o athidente doméstico e o convite à reforma.
Magnífico Ministro
Acha que uma queda me impressiona? E se for despachado, já tenho para onde ir.
Thopinha de matha
Ah thim?
Magnífico Ministro
Sim, os melhores cuidados de saúde deste país. O último foi coração, cabeça também, julgo. Pena é que a concorrência é forte. Não sei de que padece o candidato a salvador da pátria, mas está muito amarelo e não será com certeza do bolo-rei ou do folar… É isso; está decidido, vou-me tratar.

Levanta-se, dorido, e dá um pontapé na Lata de Coca Cola Light.

julho 20, 2005

O Magnífico Ministro - 1º ACTO; Cena 1

Personagens
Magnífico Ministro
Velho Patrício
Lata de Coca Cola Light

Durante alguns segundos, com o palco ainda em obscuridade completa, ouve-se o EXURGE DOMINE ET JUDICA CAUSAM TUAM, cantado por um coro de Eunucos. Sinos de catedral.

Velho Patrício
Nada.
Lata de Coca Cola Light
Nada de nada. Há horas que o espero. Já que se rendeu aos meus encantos, bem podia arranjar um telemóvel.
Entretanto, ouvem-se passos à porta do Palácio e vê-se o Magnífico Ministro chegando apressado, com um pasquim debaixo do braço e a mala que o acompanha desde os tempos da primária na mão.
Magnífico Ministro
Die another day.
Lata de Coca Cola Light
Goldfinger.
Magnífico Ministro
From Russia with Love.

Lata de Coca Cola Light
Diamonds are forever.
Magnífico Ministro
You only live twice. Pronto. Ganhei. Também podia ter perdido ou ido fazer uma missão extraordinária ao Dubai, eu sei lá.

Lata de Coca Cola Light e Velho Patrício, em uníssono
Onde vamos hoje?
Magnífico Ministro
Por hoje estão dispensados. Tragam-me só uns pastéis de Belém que tenho muita conta para fazer, muita pergunta para ponderar. Esperem! Ainda não vos contei o que fiz quando estive no II Governo constitucional...
Todos abandonam a cena, deixando o Magnífico Ministro a pregar aos fumadores.

julho 19, 2005

O Magnífico Ministro

Em jeito de leitura de praia, a Loira publica, em fascículos coleccionáveis com oferta de capa autografada, a peça 'O Magnífico Ministro'. Não perca, a partir de amanhã, esta tragi-comédia em vários actos. A sua vida nunca mais será a mesma.

Recebemos entretanto um comunicado da Direcção do DN agradecendo a todos quantos hoje trocaram o Público por este magnífico quotidiano e permite-se sublinhar que afinal amanhã é que é dia de troca.

Parto da paixão

Regresso, não a Innisfree, mas a ti. Polvilhamos juntos memórias de ontem com momentos roubados a outros, fingimos recordar sabores a preto e branco, inventamos partidas salgadas e doces regressos. Nós ou a cega ânsia de apagar intervalos.
No Tejo espelham-se beijos roubados em esquinas de esperas com soluços de dúvida. Fecho a janela, evaporam-se.
Hoje por ontem com cheiro a amanhã. Tempos inteiros, só nossos.

Quando o mito se torna a minha realidade

Não tendo nenhum em casa, habituei-me a imaginar o Funcionário Público como um ser cinzento, parasita, desinteressado e desinteressante, cumpridor do horário das 10h às 17h. Desde há alguns anos, ele é-nos apresentado como a causa de todos os males da nossa sociedade e da nossa economia, como aquele que, do ensino à saúde, engorda o défice, destrói a produtividade e suga o Estado Providência.
As fontes do mal já foram identificadas: faltam incentivos, responsabilização, cultura de serviço público, etc.. Acima de tudo, falta confiança. Confiança por parte dos chefes, muitos deles funcionários públicos, confiança por parte das chamadas elites dirigentes, algumas delas também públicas. Criam-se administrações paralelas, gabinetes cada vez maiores, encomendam-se estudos a consultoras privadas e obtém-se uma duplicação desnecessária e dispendiosa da Administração Pública. Não faz falta uma reforma da Administração Pública, fazem falta várias reformas, faz falta um conceito de gestão de recursos humanos públicos adequado às necessidades da economia e da sociedade.
Se os políticos conseguem pôr a funcionar gabinetes, se as coisas se fazem sempre, com ou sem o auxílio dos funcionários públicos, por que não aplicar aos serviços uma lógica de gabinete no qual o funcionário sabe quais são as linhas de orientação, serve não um governo, mas o País, com toda a responsabilidade inerente ao cargo?
Processo longo, sinuoso, será com certeza, mas há que aproveitar o facto de muitos funcionários públicos já terem passado por experiências profissionais não públicas para tentar perceber por que razão rendem mais nesses cargos do que nos públicos.
Se um boy não rende num gabinete, percebo por que não se exonera o boy. Nos serviços também se mantém o parasita, com tudo o que vai custando a todos nós, não só em termos financeiros, mas também em esforço quotidiano para não nos tornarmos um. Acabaremos por ficar como ele por não ver a recompensa do trabalho ou por ir procurar um trabalho que nos estimule verdadeiramente.
Temo que em breve me encontrem a pescar jaquinzinhos e a apanhar lavagante ao largo do Algarve.
Foi o último post sobre estes temas. Daqui para a frente, só coisas bonitas, prometido.

julho 18, 2005

Missão

Sempre me entreguei às coisas com um certo espírito de missão. Andei de redoma em redoma sem nunca me aperceber de uma certa realidade do funcionalismo público com a qual me deparo agora todos os dias. Não sei se isto se pega, mas não quero ficar como eles. A motivação decresce de dia para dia, o cinismo é-lhe inversamente proporcional.
'Tens que fazer outras coisas'. Não, tenho que fazer o que eu sei fazer. Não quero ficar como eles. Imagino quedas no chão encerado, doenças profissionais variadas, ignoro o papel para que se acumule, não trago o carro para resistir ao canto das tágides.
Acendo mais um cigarro com vista para o Tejo. O Cristo-Rei, transmutado em Jaime Silva, acena-me e põe-me a sonhar com o montado de sobro.

julho 13, 2005

Senhora do nosso destino

Com o Presidente da República em viagens turísticas de fim de mandato, o facto de não se perfilarem ainda candidatos 'naturais' ao cargo poderá ser um indício de mudança dos tempos. Pergunto-me se não terá chegado a altura dos principais partidos patrocinarem uma candidatura feminina a Belém.
Teria que ser uma grande mulher. Uma lutadora, um misto rural-urbano, capaz de liderar, com a sua idoneidade, a sua perseverança, o seu cérebro esquematizado, o seu sorriso ensaiado, os destinos dos Portugueses.
Só vejo uma pessoa capaz de encarnar este espírito. É Professora catedrática, consultora de muita gente, gestora de inúmeras redes internacionais. Há anos que vem mudando a minha vida. Talvez possa mudar a de todos nós.

julho 12, 2005

50 mil

Embora os ataques terroristas sejam, segundo o Presidente da Comissão europeia, um mal muito menor que os acidentes rodoviários, tentar prevê-los não deixa de ser um exercício tão válido como chamar à meteorologia ciência.
Documentos secretos a que a Loira teve acesso apontam para que o próximo líder a ser castigado seja José Manuel Barroso, então Primeiro Ministro de Portugal e o 4º elemento da foto que o Louçã foi tirar às Lajes: "Eles mentem, eles explodem".
Como já todos percebemos, o atentado terá lugar num transporte público e já não restam muitas alternativas. O cacilheiro seria demasiado óbvio, e os filhos de Alá não são muito amigos de água. O metro do Porto poderia ser uma boa alternativa, tratando-se na realidade de um eléctrico. Na mesma categoria, o '28 Prazeres' lisboeta não reúne todas as condições, uma vez que faria um número de vítimas sensivelmente idêntico ao de um 'bom' acidente no IP5. Resta-nos o carro-maca e 50 mil quase garantidos no Dragão.
Faites vos jeux.

julho 11, 2005

Palavras com cor

Depois dos rios de tinta que correram sobre o arrastão da praia de Carcavelos, ficamos a saber que afinal não houve arrastão, houve apenas ocasião, que nada foi premeditado, que não houve aproveitamento étnico-racial do 10 de Junho.
A palavra – usada, sabe-se agora, sem rigor - ditou as análises e manchou, qual Prestige, a imagem do turismo português no mundo. Sociólogos, politólogos, etnólogos, comentadores e cidadãos preocupados explicaram-nos tudo: integração, desenraizamento, insegurança, ameaça. A onda teve ainda o mérito de libertar o racista primário que existe em cada Português.
Saber que não houve arrastão não torna o problema menos real, como geralmente acontece em Portugal com os fogos no Inverno ou as cheias no Verão. É um problema de integração e de tolerância, não só para aqueles que sentem todos os dias na pele o peso da diferença ilusória, como para os que são assaltados no seu pacato regresso a casa.
Não sei que instinto me fez agradecer, há um ano, a dádiva de ter sido assaltada por um branco e por um preto ao mesmo tempo, mas sei que quem veio com as suas teorias para a praça pública após o inexistente arrastão do 10 de Junho nos deve uma explicação.

Agência Cosmos

118 almas vagueando no suposto propósito de “incrementar” relações, impulsionar fluxos comerciais, cumprir potenciais de relacionamento… pelo menos um sopro de alma suspirava por outras conquistas.

À Isla Negra de Neruda foi a Embaixada do Presidente de Portugal levar o inevitável projéctil que finca o idioma de Margarida Rebelo Pinto e próximos: o faduncho.

Já se deixa ver o Poeta, inebriado na marialva sedução…

Demoro progressivamente mais tempo a mão sobre os meus olhos, de cada vez que para exibir o orgulho nacional lhes damos com o faduncho.

Não Sr. Presidente: não pretenda representar-me com faduncho. Aliás, Sr. Presidente: porque é que ainda pretende representar-me?...

Katarina 7/07

“7th July came as a blessing to me. Now I see you cry, I see the posters with my picture hanging in the streets of London and I almost regret having done this to you. I never thought you loved me so much...
I bought this Chelsea t-shirt and jumped on a boat to Lisbon. A blond girl came to me. She promised me silence. To her and to all of you, I dedicate an unwritten song where blood, smoke and shouting bear the taste of freedom.
Katarina”

julho 06, 2005

Loira aberta

Na escola, sempre que nos pediam para contar como tinham sido as férias, lembro-me de cobrir o Algarve de neve e de fantasiar com aparatosas chegadas de helicóptero. O relato que se segue não se deve em nada à minha imaginação.
Fizemo-nos à estrada numa tarde quente de Verão, não na prometida roulotte, mas num potente 'love machine'. Paragem obrigatória numa estação de serviço que 'afinal não era bem aquela', mas que serviu diferentes propósitos.
Aterrámos enfim num espaço bucólico que dá pelo nome de 'Hotel dos Navegadores'. Entre Espanhóis e sexagenários acompanhados de criancinhas birrentas, lá conseguimos encontrar os quartos, depois de entrar num buraquinho à esquerda, e sair deles, guiados pelo cheiro a cloro e sempre munidos dos comandos - ar condicionado que afinal não precisava de comando, mas sim de uma voz máscula a gritar um fod... e TV - que a simpática menina-da-recepção-que-não-tinha-culpa-de-nada nos forneceu à entrada.
Deleitámo-nos naquele pavilhão polimultidesportivo com piscina coberta, pátio de relva sintética com chaises-longues a condizer, mas sem os buracos de golfe, bingo, bilhar, matrecos, actuações ao vivo - com e sem velhinhos, pela módica quantia de 35 Euros.
À saída, esses mesmos 35 Euros transformaram-se repentinamente em 52 pelo simples efeito da subida do IVA, segundo a simpática menina-da-recepção-que-não-tinha-culpa-de-nada. O Sócrates é um malvado? Não, os 35 Euros do quarto single equivalem a 52 no caso do single só ser ocupado por uma pessoa. Não engataste ninguém? São mais 17 Euros! Assim funciona o turismo em Portugal; temos que ser uns para os outros.
Oferecemos uma estadia para duas pessoas, com mais de sessenta anos e criancinhas apensas, em quarto single, ao/à primeiro/a que adivinhar onde demos com este paraíso na terra.

julho 01, 2005

Brave New Life

O desterro em África, o sino que ninguém cala, o código para as fotocópias, a água emprestada pela secretária, as canetas sem tampa, o meu nome repetido à exaustão em fichas duvidosas, a casa de banho sem luz, o papel que nos vai cercando... Sinto-me nua sem computador.
O único contacto com o mundo real faz-se através dos 'homens das obras' que dão um toque de Sex and the City ao cenário e sorriem, sem pudor, sempre que passo.