julho 11, 2005

Palavras com cor

Depois dos rios de tinta que correram sobre o arrastão da praia de Carcavelos, ficamos a saber que afinal não houve arrastão, houve apenas ocasião, que nada foi premeditado, que não houve aproveitamento étnico-racial do 10 de Junho.
A palavra – usada, sabe-se agora, sem rigor - ditou as análises e manchou, qual Prestige, a imagem do turismo português no mundo. Sociólogos, politólogos, etnólogos, comentadores e cidadãos preocupados explicaram-nos tudo: integração, desenraizamento, insegurança, ameaça. A onda teve ainda o mérito de libertar o racista primário que existe em cada Português.
Saber que não houve arrastão não torna o problema menos real, como geralmente acontece em Portugal com os fogos no Inverno ou as cheias no Verão. É um problema de integração e de tolerância, não só para aqueles que sentem todos os dias na pele o peso da diferença ilusória, como para os que são assaltados no seu pacato regresso a casa.
Não sei que instinto me fez agradecer, há um ano, a dádiva de ter sido assaltada por um branco e por um preto ao mesmo tempo, mas sei que quem veio com as suas teorias para a praça pública após o inexistente arrastão do 10 de Junho nos deve uma explicação.