fevereiro 28, 2005

Mediterrâneo

Sabe bem voltar a nós, sentir a tua brisa morna na pele, adivinhar o sal das tuas ondas ao ouvido. Chamaste Mahler para nos acompanhar ao piano. A maré está vazia, não me deixas mergulhar. Envolves-me o corpo, embacias-me o olhar. Não me deixas mergulhar.
Recua mais, sim, deixa a minha praia secar, como os meus lábios que vejo em fogo no reflexo do teu olhar.
Afogo o mergulho e sacudo a areia. Sono tranquilo, nos braços da tua maresia.

Relógio de corda

Durante anos, conservou o sonho na água salgada dos seus olhos, vivendo a esperança de eternizar momentos no relógio sem corda. Quantas vezes não foram eles próprios ponteiros sem corda, encontrando-se por acaso à hora certa, num qualquer lugar comum…
Com ele à sua frente, olhou para a torre, fechou o tabuleiro e deu corda ao relógio.
Nunca mais estarão juntos, mas também nunca mais estarão separados. Morreu a saudade.

Eichmann para Seabra

Agora que a pseudo-confundida Maria do Carmo Seabra vai ter mais tempo, sugiro-lhe a leitura de “Eichmann em Jerusalém”. Provavelmente não saberia o que se estava a passar com a colocação dos professores, muito provavelmente não perceberá o porquê desta sugestão.
A culpa, essa, fica nos serviços. Sempre.

fevereiro 27, 2005

Sacos de Plástico

Há tantos...

fevereiro 23, 2005

Elapsed

"Sempre que tenhas coisas a mais na cabeça, faz-te bem vir olhar o mar."
Alfredo Carreira - campeão mundial , bi-campeão europeu e penta-vezes-quatro campeão ibérico em ser avô.
Talvez porque as coisas se diluíssem na água, não sei. Mas tinha razão.
O problema é ter que tratar delas antes de sentir o cheiro a limos.
Estou a oito dias. E a quatro.
Respectivamente.

fevereiro 22, 2005

Meniezes



Nortista, conservador e populista:
prepara-te para ferires o nariz à conta de cleenexes.
Choradeira assegurada e digna de novela mexicana.
A auto-vitimização constante do Santana é filha daquela actuação no Congresso em que nos juraste que te ías dedicar em exclusivo à medicina geral.
Tens, por isso, p'rái, 28 e qualquer coisa por cento de chances de não me voltar a fazer rir às gragalhadas.
Bless you, little man!

Quem é que se casa hoje??

Ou fui eu que vi mal e não reparei no Sr. primeiro-ministro, com o seu habitual sentido de Estado, a representar Portugal na Cimeira da NATO em Bruxelas, hoje.
Ainda por cima está lá o amigo de todas as horas W. Bush...

fevereiro 21, 2005

V


De vingança. Nem vitória do PS, nem derrota da coligação no governo, nem mesmo do mártir Santana Lopes. O resultado destas eleições espelha uma vingança sofisticada, regada com crème glacée pelo Chef Sampaio.

Não foi ninguém. Fomos todos, juntos, sem combinar, no aconchego secreto das urnas. Estávamos fartos, nós que nunca votámos neles, mas só conseguimos este alcance porque os melhores mestres da vingança, as madalenas arrependidas da classe média, se juntaram a nós. Ela não se compadece com a arraia-miúda nem se deixa empolgar por projectos colectivos. Só sabe que aceitou fazer sacrifícios e que lhe pediram sempre mais, sem nunca mostrar resultados.

Mini-crise de ciúmes nas europeias, e agora fico contigo. Mas se não fizeres nada para melhorar a minha sorte, já sabes o que te espera.
E de vingança em vingança, assim vamos remando rumo ao desconhecido.

A foleirice é uma nódoa que não sai.

"PROCURA-SE
Mais uma fuga a abalar o PS. Desapareceu de casa na sexta-feira à noite. Aparenta distúrbios vários. Pode ser perigoso. Há quem garanta que caminha para Belém. [Vítor Cunha]
posted by PPM at 12:27 AM E NÓS TAMBÉM GERAMOS VIDA "
O post acima está publicado n'O Acidental. É do dia 9 de Julho e refere-se à demissão de Ferro Rodrigues.
É com a mesma elegância e honra (de que tanto se arvora este blog) que me dispenso de chamar quadrúpede a Vítor Cunha.
Prefiro um exercício mais divertido. Plagiarei o post. Fica assim:
Mais uma fuga a abalar o PP. Desapareceu de cena neste Domingo à noite. Aparenta distúrbios vários. Já não pode ser perigoso. Mas há quem garanta que se estava a babar.
Fico à espera da crítica moral. Ou tenho de subir dez degraus para chegar ao vosso patamar de virtude, bem comprovado nesse post?

Paulo:

Saíste com sentido. Mas.
Não me esqueço de nada. Nem sequer de que uma das tuas melhores qualidades políticas, tão típicas dos populistas, é a “calimerização”*.
Com a qual incendeias os talentos de gente muito capaz.
A hipnose não vale, Paulo. Porque é populismo.
Um dia, quando um clone teu voltar, explico-te porque é que o populismo é mau. Garanto-te que nem tu vais gostar. Como se viu pelos 40.000 votos que te roubou o teu irmão.com desavindo, não foi?
Porque uma coisa te concedo:
Andamos todos esquecidos da verdadeira razão.

No rodapé das revistas de história, o teu nome não vai constar. Não é ressentimento. É alívio.

* Qualificação da conduta política de Nobre Guedes conferida por Mário Nogueira, cabeça de lista pela CDU em Coimbra.

Tenhamos calminha

Sejamos francos: não se trata do quénedi, pois não?
Sejamos lúcidos: não vêm aí tempos fáceis, pois não?
Sejamos cândidos: o que se passou ontem sentiram-no eles há três anos atrás, não foi?

Então tenhamos calma. Devemos isso a quem inequivocamente as ganhou. Às eleições.
Até contra o burburinho mais íntimo.

Vá de endireitar isto! Pela esquerda.

fevereiro 18, 2005

Em jeito de resposta

Carta afixada à porta do Hospital de Santa Maria

Meu menino,

Não parei de ler a sua carta; fui atropelada. Acidente de percurso,
nada de grave. Hei-de me reerguer,
tal como o Pedro. Não vou poder ir votar, mas
quero que saiba que eu não sou parva; só
se fosse votava no outro. O menino
sabe que temos algo em comum: choramos, sangramos. Ele
não vale nada. Estou farta de putos mimados
que só querem colo. Não é
como o Pedro, o menino
que luta pelo seu povo. Ele que
continue a chorar e a fazer beicinho.
Sempre achei que tínhamos algo em comum.
Castraram-no? Também a mim
e todos os dias
me dói o que andaram a fazer com o nosso país.
Diga-lhe para desaparecer.
Eu dou-lhe o colo. Vai mas é trabalhar, malandro!


(Vale a pena ler de novo, saltando uma linha...)

fevereiro 15, 2005

O último pastorinho

Reza a história que Paulo passou a noite em preces pelo seu pastorinho, o melhor guardador de segredos, saudoso do Portugal bucólico escondido entre vales e cabras. Ainda o sol não aquecera, já ele estava à porta do convento para o último adeus a Lúcia e uns beijos beatificantes.
Pedro, como sempre, acordou tarde e perdeu o carinho das câmaras.

Crucifixos e aventais

Já não temos crucifixos nas escolas, já não abençoamos os nossos edifícios públicos, as igrejas estão vazias, mas o ópio do povo, reencarnado na figura dos altos dignatários da Igreja católica, ainda entorpece a nossa vida política.
Apelos eleitoralistas em nome da vida, ataques cerrados à Maçonaria – cuja rendição fica patente nas palavras do grão-mestre António Arnaut sobre o “reavivar do milagre de Fátima” com a morte da irmã Lúcia -, ou a governamentalização da Opus dei são apenas faíscas de um auto da fé que arde sem se ver. Eles não dormem.
Em homenagem a Lúcia, cabeça de lista pelas portas do céu, cancelou-se a campanha. Oremos, por amor a Portugal.

fevereiro 14, 2005

Eu sei que esperas por mim

Pedro,

Já sei que está sem voz, mas hoje prometo que não precisa de falar. Vamos brincar às escondidas, menino guerreiro. Encontre-me, se for capaz...
Sua, sempre fiel.

fevereiro 11, 2005

Just between us

Cortaram-me o gás. Quem cortou ainda não ligou, mas eu já tenho água quente. Fica só entre nós...
In: Euronews, 'No comments' - Portugal

fevereiro 10, 2005

Enivrez-vous


Em jeito de nightswimming, mergulho na estante secreta onde escondo uma tara antiga que alimento com recortes de jornal. Eleições. Animam a nossa existência por permitirem o ressuscitar de vozes supremas - historiadoras, filósofas, politólogas ou simplesmente políticas -, sempre acompanhadas dos seus diagnósticos a preto e branco. O mal português vem da falta de projectos colectivos, tanto à esquerda como à direita. Vivemos todos debaixo de um intenso nevoeiro sem espaço público, sem capacidade de inscrição, sem ambição, onde dominam o medo e a inveja, e pulula o gregarismo.
Obrigada a todos pelos vossos diagnósticos. Hélas, também eles portugueses, sem ambição, sem projecto de futuro, sem concretização. Cobardes.
Depois admiram-se que nos deixemos seduzir pelo canto das sondagens, com o mesmo sabor agridoce a suspense que antecede um bom derby.
O último a sair fecha a porta. Com força. Não vá ficar por aí algum fantasma escondido.

Campanha sem-abrigo

O meu louco de Lisboa preferido que me pergunta todos os dias 'Do you speak English?' e a quem eu respondo agora 'Claro que não, eu não sou do tempo do Inglês no básico.', renovou o seu guarda-roupa. Não vota, mas anda de lenço encarnado na cabeça, cachecol branco ao pescoço - cortesia do PS, e um colete reflector cor-de-laranja - da JSD (já lá tem uns a mais para vender: diz que também dá jeito para ter no carro). Usa os saquinhos azuis e amarelos para as necessidades, agora abençoadas pelo Portas, amigo.
Campanha solidária. Por uma Lisboa mais segura e mais saudável.

fevereiro 02, 2005

IP: Portugal

Hoje acordei para viver uma quarta-feira e descubro que afinal já é sexta.
Duas horas deliciosas na Loja do Cidadão a ler o Inimigo Público (IP) e quase não me irritei com o funcionário da Lisboa Gás que me mandou voltar com o documento indispensável que se esqueceram de referir na carta que me enviaram.
Com Portas contra a lavagem de roupa suja em campanha, o renascer do homem total de Marx, Pedro e o fantástico mundo da mentira, a reedição do dou-te um chocolate em troca de três nomes de deputados e Mogais Sagmento nas minas da panasqueira procurando a luz ao fundo do túnel, só resta à equipa do IP demitir-se. A vida real tem muito mais piada.

Ó D. Urraca...

... que nome é que se dá aos meninos no recreio que atiram pedras aos outros e depois choram à frente da turma como se fossem eles as vítimas?