fevereiro 10, 2005

Enivrez-vous


Em jeito de nightswimming, mergulho na estante secreta onde escondo uma tara antiga que alimento com recortes de jornal. Eleições. Animam a nossa existência por permitirem o ressuscitar de vozes supremas - historiadoras, filósofas, politólogas ou simplesmente políticas -, sempre acompanhadas dos seus diagnósticos a preto e branco. O mal português vem da falta de projectos colectivos, tanto à esquerda como à direita. Vivemos todos debaixo de um intenso nevoeiro sem espaço público, sem capacidade de inscrição, sem ambição, onde dominam o medo e a inveja, e pulula o gregarismo.
Obrigada a todos pelos vossos diagnósticos. Hélas, também eles portugueses, sem ambição, sem projecto de futuro, sem concretização. Cobardes.
Depois admiram-se que nos deixemos seduzir pelo canto das sondagens, com o mesmo sabor agridoce a suspense que antecede um bom derby.
O último a sair fecha a porta. Com força. Não vá ficar por aí algum fantasma escondido.