junho 27, 2005

Partir em Junho

Não gosto de despedidas. Há quem diga que é sempre mais difícil para quem fica do que para quem parte. Não é verdade.
Despedi-me de ti a meio do mês. Doeu. Disse-te que estaria lá sempre que precisasses. E fui eu que precisei.
Agora despeço-me do que fiz nos últimos meses. Dói. Não disse nada.
Afoguei tudo numa tela que queria pintar de azul e que acabou por sair às cores, meio daltónica, meio nua, meio tua.

junho 22, 2005

Denial

Zé Manel,
Na carta que te enviei hoje, esqueci-me de referir o assinalável progresso alcançado nos nossos governos na redução dos fogos florestais, na redução do desemprego, na redução do número de abortos clandestinos, na redução do número de agentes de segurança mortos na Cova da Moura, etc.
Todos, como o défice estrutural das finanças públicas, aumentaram. Mas não interessa. O que conta para mim são as pessoas. E essas, sei que estiveram sempre e continuarão comigo.
a)Pedro
Por favor, alguém que arraste este homem para bem longe da Europa...

junho 20, 2005

A pedido de várias famílias

O Game Boy, mesmo desligado, redobra de charme.

So long Princess

Durante as longas horas de velório europeu, quando já se sussurravam nos corredores as intenções do Reino Unido, estive num terraço, a dois metros de Tony Blair. Ainda pensei em ir ter com ele, pedir-lhe que parasse com o show e nos libertasse. Fui cobarde; tive medo que se irritasse e que os snipers que nos expiavam de cima do telhado começassem a disparar. Impotência.

Com este Conselho Europeu de falhanços desapareceu uma certa Europa. Noutros tempos, ter-se-ia saído dali com pelo menos uma mensagem de esperança e uma decisão menor vendida como grande vitória. Magoa-me talvez menos o facto de não se ter aprovado o orçamento comunitário do que a incapacidade dos 25 em adoptar uma declaração comum em relação ao Tratado constitucional. Não faz sentido persistir numa gravidez de um feto morto. Adiar só aumenta o martírio de um parto que terá sempre que ser feito.

Quanto ao orçamento, importa distinguir as posições dos Estados que bloquearam o acordo em Bruxelas. A Holanda, triste lacaia do Reino Unido, fê-lo por 300 milhões de Euros, a Suécia por outros tantos, a Espanha para se juntar à festa. Desengane-se quem pensou que os novos Estados deram prova de desprendimento material ao aceitarem baixar as suas reivindicações para que houvesse acordo. Seria a primeira vez que receberiam fundos e sabiam que nunca conseguiriam utilizá-los por inteiro. O que mais lhes interessava era um acordo.

Quero acreditar que com o Reino Unido foi diferente, que não o fez por razões de puro egoísmo nacional, que não foi só a questão do cheque britânico que impediu o acordo. Tony Blair disse que eram necessárias reformas para se poder aprovar este orçamento, que a Europa não podia ficar agarrada ao passado – leia-se à PAC e à Coesão -, que era necessário pôr o orçamento ao serviço de um projecto de futuro. Foi essa reflexão de futuro que se iniciou na Cimeira de Lisboa, em 2000. Lamento que Blair não tenha posto em cima da mesa uma única proposta para se chegar a um acordo. Todos estavam dispostos a ficar ali pela noite dentro para dar um sinal de rumo. Nada.

Enquanto De Gaulle festeja no seu mausoléu em Colombey-les-deux-Eglises, Blair tem seis meses para nos provar que tem capacidade para fazer tabula rasa e reunir os 25 em torno de um projecto de futuro verdadeiramente comum. Muito se criticaram as iniciativas hegemónicas e arrogantes do eixo franco-alemão, mas a verdade é que enquanto existiram líderes fortes em França e na Alemanha, a Europa foi avançando. Talvez tenhamos pecado todos por não lhes termos dito na altura certa que não era aquele o rumo ou o ritmo. Espero que Portugal esteja à altura deste desafio de contribuir para, ou de se opor a uma nova liderança europeia, venha ela de onde vier.

Entretanto, sosseguem, a Europa (o espaço sem fronteiras, o Euro, os fundos, as directivas, a vontade de fazer em comum…) não morreu. Fugiu, rasgando o céu nublado de Bruxelas, montada no seu touro branco. Adeus Princesa.

junho 17, 2005

Alto risco

Este será provavelmente o post mais arriscado que já escrevi pelas circunstâncias em que o estou a fazer, mas o prometido é devido...
Três notas apenas: viagem de elevador com o Fini, olhinhos a pedinchar ao Schröder e uma conversa acalorada com a T. de Sousa que vê agora Blair como o único salvador da Europa. Pfff...
Over.
Mais notícias, pormenorizadas, já de Lisboa.

junho 16, 2005

Operação Princesa Europa

Relato ao minuto dentro de algumas horas, prometido.

junho 07, 2005

Escândalo na República:

O Ministro dos Negócios Estrangeiros tem opiniões pessoais!
O que é que se segue: Pacheco Pereira a defender as posições de Estado? António Vitorino a assumir responsabilidades?
Alcina Lameiras a acertar nas previsões da conjuntura económica?
tss, tss... estes romanos andam loucos!

junho 01, 2005

O post abaixo

não é para ler. É muito comprido e chato - e isso não é de blog. O blog - este blog - continuará dentro de momentos... pelo facto pedimos as nossas desculpas.

Nem é bem a questão do tamanho... é mais se os temos ou não...

Digo não aos referendos sobre a Constituição Europeia.
O projecto europeu foi sendo construído com base num consenso entre sociais-democratas e democratas cristãos que assentava em três pilares – o da liderança da integração das instituições comunitárias (económicas, aliadas à integração em termos de justiça e assuntos internos); um modelo social europeu forjado por essas duas correntes políticas que institui um parâmetro de vida; e a política externa e de defesa comum (sendo que aqui o consenso era o de que… não houvesse consenso). Esse consenso nunca foi referendado. Em Portugal nunca referendámos o Tratado de Roma, de Amesterdão, de Maastricht ou de Nice.
Sucede que o que está agora em causa, em toda a Europa, é o recrudescimento de correntes situadas nos dois extremos do espectro político, não só porque são mais atractivas e dinâmicas junto da opinião pública e media, mas sobretudo por incompetência, soberba e falta de comparência dos dois compadres do consenso. Foram aqueles que exigiram o referendo. Será por eles que chumbará em todo o lado.
Acresce que a única forma democraticamente legítima de se elaborar uma Constituição é através da eleição de uma Assembleia Constituinte – não é juntar um grupo de representantes das várias burocracias nacionais e fazê-los pensar como um Burocrata Único via convenção. Foi assim que cá fizemos – foi assim que a ONU fez, por exemplo, em Timor. Entendo todas as razões pelas quais isto era impossível de fazer na Europa. E concordo com todas elas. Mas forçar a legitimidade da CE através de referendo, numa altura em que a adesão dos cidadãos ao projecto europeu – já para não dizer à política – é nula, é sensivelmente o mesmo que pedir à Nossa Senhora que apareça nas Amoreiras numa de juntar o útil ao agradável. Para alguma função são eleitos os Parlamentos Nacionais. Deixemo-los.
O PS sempre defendeu o alargamento da U.E. E eu concordo, se me perguntarem… Mas fê-lo sempre de forma um pouco gratuita: nunca assumiu que essa solidariedade com os restantes povos europeus, essa lealdade ao processo de integração, do qual tantos frutos colhemos, implica uma factura à Europa. Essa factura, como se vê, é a coesão. É preciso assumi-lo.
De umas e outras questões resultam a falta de visão e... a divisão. Já antes vimos a Europa bem dividida. Não temos é os líderes que tínhamos nas outras alturas. Nunca, como hoje, estive tão pessimista com o Mundo.