junho 20, 2005

So long Princess

Durante as longas horas de velório europeu, quando já se sussurravam nos corredores as intenções do Reino Unido, estive num terraço, a dois metros de Tony Blair. Ainda pensei em ir ter com ele, pedir-lhe que parasse com o show e nos libertasse. Fui cobarde; tive medo que se irritasse e que os snipers que nos expiavam de cima do telhado começassem a disparar. Impotência.

Com este Conselho Europeu de falhanços desapareceu uma certa Europa. Noutros tempos, ter-se-ia saído dali com pelo menos uma mensagem de esperança e uma decisão menor vendida como grande vitória. Magoa-me talvez menos o facto de não se ter aprovado o orçamento comunitário do que a incapacidade dos 25 em adoptar uma declaração comum em relação ao Tratado constitucional. Não faz sentido persistir numa gravidez de um feto morto. Adiar só aumenta o martírio de um parto que terá sempre que ser feito.

Quanto ao orçamento, importa distinguir as posições dos Estados que bloquearam o acordo em Bruxelas. A Holanda, triste lacaia do Reino Unido, fê-lo por 300 milhões de Euros, a Suécia por outros tantos, a Espanha para se juntar à festa. Desengane-se quem pensou que os novos Estados deram prova de desprendimento material ao aceitarem baixar as suas reivindicações para que houvesse acordo. Seria a primeira vez que receberiam fundos e sabiam que nunca conseguiriam utilizá-los por inteiro. O que mais lhes interessava era um acordo.

Quero acreditar que com o Reino Unido foi diferente, que não o fez por razões de puro egoísmo nacional, que não foi só a questão do cheque britânico que impediu o acordo. Tony Blair disse que eram necessárias reformas para se poder aprovar este orçamento, que a Europa não podia ficar agarrada ao passado – leia-se à PAC e à Coesão -, que era necessário pôr o orçamento ao serviço de um projecto de futuro. Foi essa reflexão de futuro que se iniciou na Cimeira de Lisboa, em 2000. Lamento que Blair não tenha posto em cima da mesa uma única proposta para se chegar a um acordo. Todos estavam dispostos a ficar ali pela noite dentro para dar um sinal de rumo. Nada.

Enquanto De Gaulle festeja no seu mausoléu em Colombey-les-deux-Eglises, Blair tem seis meses para nos provar que tem capacidade para fazer tabula rasa e reunir os 25 em torno de um projecto de futuro verdadeiramente comum. Muito se criticaram as iniciativas hegemónicas e arrogantes do eixo franco-alemão, mas a verdade é que enquanto existiram líderes fortes em França e na Alemanha, a Europa foi avançando. Talvez tenhamos pecado todos por não lhes termos dito na altura certa que não era aquele o rumo ou o ritmo. Espero que Portugal esteja à altura deste desafio de contribuir para, ou de se opor a uma nova liderança europeia, venha ela de onde vier.

Entretanto, sosseguem, a Europa (o espaço sem fronteiras, o Euro, os fundos, as directivas, a vontade de fazer em comum…) não morreu. Fugiu, rasgando o céu nublado de Bruxelas, montada no seu touro branco. Adeus Princesa.