setembro 28, 2005

Português azul

A hora tardia a que olhei para os jornais fez com que hoje me parecesse ter vivido la vie en bleu.
Fátima, querida, aproveitando a ideia de fazer malas com painéis publicitários, vou-te oferecer um saquito azulinho para ires à praça.

setembro 27, 2005

Ode a Dresden

Após o blitz de Londres, Churchill escolheu uma cidade alemã com um número de habitantes próximo do de Londres para a retaliação. A escolha recaiu sobre Dresden. Qual Tóquio, qual Hiroshima; nunca um bombardeamento fez tantas vítimas em tão pouco tempo.
É lá que se joga o futuro da Alemanha, o futuro da Europa. Que aconteça rápido, antes que os Britânicos acabem com tudo, fingindo patrocinar grandes reflexões sobre os pseudo-modelos europeus e prometendo perspectivas. Financeiras ou outras.
Fool me once, shame on you. Fool me twice, shame on me.

setembro 26, 2005

Aqui vai nascer uma obra de Pandora

setembro 22, 2005

Balada da saudade perdida

Saudade seca num país saudosista que te deixaste levar pelo vento que nos meus olhos queima a vontade de ter saudade.
Saudade presa num turbilhão de lembranças que não consigo recordar. Recordações impessoais, rasgadas pelo tempo que passa sem marcar. Memórias guardadas, perdidas para sempre porque um dia foi preciso apagar a saudade. Recomeçar. Sem lembranças, sem memórias, sem passado. Sem sorrisos, sem choros, sem saudade.
Tantas, tantas saudades. Saudades de ter saudades.

Santanismo made in Deutschland

Todos se recordarão da célebre invectiva de Santana Lopes contra as empresas de sondagens, prometendo processá-las caso o seu povo o tivesse abençoado mais do que elas nas últimas eleições legislativas.
O absurdo ao contrário aconteceu no país que fez de Einstein um refugiado. As empresas de sondagens alemãs, que previram um resultado bem mais dilatado para Angie, acusam-na de ter sabotado o seu trabalho com as suas más prestações.
Só falta Santana aparecer na televisão com um sorriso jamaicano a dizer que deve ser ele o Chanceler.

Dúvida desconstrutiva

Na era pré-Bushiana, os furacões tinham todos nomes de mulheres?

setembro 19, 2005

Experimenta Design

- Casa comigo...
- Caso. E tu compras-me aquele palácio. E eu passo os dias à janela a ver o Tejo azul, encarnado, cor-de-laranja.
Experimenta Design em Santa Catarina. Não lhe vi o interesse, só o Tejo, a passar, durante horas, languidamente, como se não tivesse para onde ir.

setembro 13, 2005

Oxigenar (1)

Sempre achei que havia algo de estranho na democracia nipónica. Não parece haver qualquer tipo de alternância, a não ser entre as facções A, B, C ou D do Partido Liberal Democrata que governa há anos. E, no entanto, parece ser a fórmula adequada para se conseguirem maiorias e levarem a cabo reformas. Ou será tudo uma questão de magnetismo da liderança?
As eleições na Alemanha trarão novas pistas para esta reflexão.
(1) O título não tem nada que ver com a 'peça', mas serve de homenagem a quem o lançou ao vento.

setembro 08, 2005

A Bem da Nação - Resultados finais

Agradecemos a participação de todos e é com prazer que partilhamos convosco os resultados das sondagens 'A Bem da Nação'.
Graças a estas sondagens, conseguimos ter uma ideia mais concreta do perfil sociológico do eleitor médio da nossa amostra. A análise aprofundada dos resultados leva-nos a crer que provavelmente poucos votarão nas próximas eleições presidenciais, sendo a variável independente com maior incidência na taxa de abstenção o estado do tempo (uma vez que os incêndios até lá já deverão estar todos circunscritos). Infelizmente, a margem de erro da sondagem não nos permite aferir com tanta certeza quanto seria desejável do perfil do candidato a eleger, pelo que preferimos não entrar em extrapolações.
Já estamos em negociações com o Madame Tussaud's para conseguir que todos os candidatos a candidatos tenham a sua estátua de cera - não inflamável.

setembro 07, 2005

SOS Solidariedade Social

A quem de direito
Cheguei ao Centro Distrital da Segurança Social eram quase 13h30 e dirigi-me à fila onde me dariam a senha que ditaria a minha espera. As duas pessoas que estavam à minha frente foram corridas assim que pronunciaram a palavra declaração: já não há senhas.
- Como 'já não há senhas' se o atendimento é até às 16h30?
- Já não há senhas desde as 10h30, minha senhora.
- Mas eu vou ficar sem o meu rendimento mínimo e você só se preocupa com o seu ao dia 21.

Vendo as lágrimas nos olhos de uma delas, peço-lhes que se acalmem e que esperem que eu vou já. A gestora das senhas olha para mim furibunda:
- Quem é a senhora?
- Uma cidadã.
- E vem para quê?
- Para me inscrever.
- Mas para si há senha.
- Sim, mas já agora dê-me o livrinho amarelo para estas senhoras apresentarem uma reclamação.
- E o que é que a senhora tem que ver com isso?
- O livro…
Dá-me a senha, vejo o número (252 – a contagem vai no 89) e vamos em busca do livro. Tenho muito tempo. Ninguém nos dá o livro; a culpa não é deles, é das pessoas que deixam tudo para a última da hora.

- Vão dar-me o livro ou vou ter que ir chamar o Sr. Agente?

Acabam por mo dar e abro o guichet para as minhas duas lesadas. Ainda não tinha terminado a 1ª, aparece mais um cliente.
- Trabalha aqui? É que eu estou aqui desde manhã e ainda…
Sorrio.
- Não, já terminei, mas depois deixo-lhe o livro.

Pergunto, sempre a sorrir, como se chegou àquele estado caótico; já sou quase da casa. “Antes havia dois turnos, até às 20h. Agora como decidiram que fechava às 16h30, só há um. Não podemos fazer milagres e muitos ficam até às 18h. O Ministro é que havia de vir aqui, mas como um qualquer, sem motorista…”

Passa-me rapidamente a vontade de ir à casa de banho só de olhar lá para dentro. Olho de esguelha para os números que ainda não chegaram às centenas e vou apanhar ar, não vá apanhar antes uma doença qualquer.

- … mas não sabe o seu código postal? É 1000 e qualquer coisa, 2000 e picos?

Gritos e mais gritos.

Regresso, sento-me nas escadas e fecho os olhos. Os cheiros, os traços vincados daquelas pessoas, os olhares tristes, as crianças ramelosas, as mães precoces. Sinto o chão a fugir-me e não consigo parar as lágrimas… Venham buscar-me, isto vai alagar.

Assisti em directo a mais um episódio da lenta implosão do Estado Providência em Portugal.

setembro 05, 2005

Obrigada...

...Paulo Moita de Macedo. You made my day and many wonderful nights!

Made in USA

O que se está a passar em Nova Orleans não é apenas um sinal de que as catástrofes não poupam ninguém. Entre lições e análises de circunstância, Katrina põe a nu as fraquezas de alguns ideais do modelo americano, varrendo com as suas águas muita da hipocrisia que se esconde por detrás da ajuda humanitária que os Estados Unidos são sempre tão céleres a oferecer ao resto do mundo.
Não querendo entrar por considerações sobre a imutável natureza Hobbesiana da Humanidade – incisivamente resumida no ‘U loot, we shoot’ -, nem ceder à crítica fácil de uma Administração nomeada por um Presidente que os Americanos elegeram duas vezes, há algo de dramático no que aconteceu.
Por mais desumanas que possam parecer estas palavras, a verdade é que os habitantes de Nova Orleans não são as vítimas do Tsunami no sudeste asiático. São americanos, filhos bastardos de uma república imperial; e de nada lhes serve serem-no. O Estado federal que está sempre na primeira linha na publicitação da ajuda aos outros não consegue acudir-lhes. Nos Estados Unidos (como devia ser o caso em todo o mundo), não basta chegar com 7000 homens e pedir às pessoas que perderam tudo para terem paciência e darem graças a Deus pela ajuda.
A América não esteve à altura da sua ostentação em casa, tal como nunca esteve lá fora.

setembro 03, 2005

O último daqui

Setembro das vindimas, das limpezas, dos recomeços.
Com o tempo, aprendemos a rasgar papéis, a apagar ficheiros e e-mails, a partir disquetes. Com eles vão as recordações - as boas, porque as más o sol já apagou -, as vozes, as sombras, os encontros à esquina, as conversas de corredor.


Último post no computador onde escrevi o primeiro. Levo comigo a liberdade com um travo de saudade de um espaço que nunca senti como meu.

setembro 01, 2005

H2O avulso

Chegou o Verão e com ele as diásporas rumo ao Algarve. Roendo uma laranja na falésia, ninguém notou qualquer falta de água doce, ninguém imaginou que o racionamento de água começara há vários meses para os agricultores da região. A água só corre nos campos às 4as e 6as. Muitos sistemas de rega são eléctricos; a EDP decidiu cortar a luz numa 4a.

Conversa puxa conversa, dei por mim a mergulhar no maravilhoso mundo das ETAR. Poupo-vos os detalhes sobre as lamas, a água de irrigar campos de golfe e as descargas no mar, mas deixo a ingénua sugestão de se utilizar aquela água tratada para o combate aos incêndios. Uma ideia pequenina, sem dúvida, face ao projecto de avião e forças europeias de combate a incêndios.

'A Bem da Nação' - Kramer contra Kramer

Após a mais renhida de todas as votações, o combate final far-se-á entre Mário Soares e Pedro Adão e Silva.
Agradecemos mais uma vez a vossa participação e convidamo-los a votar nesta finalíssima. A bem da Nação...