abril 29, 2005

O SEF lava mais branco

Sou pouco dado a estas coisas das lides domésticas. Sobretudo, claro, porque fui educado para ser um "macho latino" português – lides domésticas não é connosco, que a mãezinha não deixa. Como qualquer "macho latino", portanto, dou-me ao luxo de assumir o meu atraso mental e civilizacional, mas não tiro a consequência. Não senhor! Começo aliás por me desculpar na educação que recebi, como se vê acima…
Mas o andar dos tempos não perdoa e quem é como eu arrisca-se sempre a gravar no ego as lições mais improváveis.
Tenho uma empregada brasileira que, espero esteja legal neste país, e que em termos físicos (e já para evitar as fantasias) só pode ser qualificada de… cura para soluços. Tudo bem até aqui.
O problema é que me vejo confrontado com a necessidade de deixar instruções sempre que lá vai a casa. E há todo um Atlântico Sul que nos separa nestas matérias: faz-me a cama, inexplicavelmente, à espanhola e invertendo a ordem da roupa; desarruma-me todos e cada um dos objectos que tenho expostos e, mais grave, não me trata do mais importante – a roupa.
To top it all: não fala.
Eu: R. tem que me dobrar as camisas que vou viajar, se faz favor.
R.: -------(?)
Eu: … as camisas… dobrar (gesticulo, mimetizo, sou ridículo…)
R.: --------(!) (fita-me com piedade)
Eu: Assim, olhe (dou por mim a embrulhar três camisas)
R.: Aaaahhh, ‘tá bom. (sorri como quem diz ”Tá mesmo bom agora que já as dobraste tu!”)

Resultado pouco "macho" e ainda menos "latino": ando a comprar camisas à razão de três por semana.

abril 28, 2005

Antecipações

"És a mae mais qerida do mundo espero ben que gostes da prenda"
A mãe mais querida do mundo não receberá esta frase escrita numa borboleta cor-de-rosa e abandonada no passeio. Mal sabia a Maria que estava a escrever para todas as outras mães.
Ontem liguei à minha que não atendeu logo, como é costume. O suficiente para sonhar que tinha sido raptada e que os raptores me tinham concedido um último telefonema. Não liguei para a minha mãe... Ninguém atendeu, ninguém tentou retribuir a chamada. Libertaram-me ao fim de uma semana, a pena estampada nos seus rostos.

abril 18, 2005

Bodylandscapes

Quem fosse à exposição da artista alemã Rebecca Horn pelo chamariz do título poderia sentir-se a princípio defraudado, mas essa sensação era rapidamente suplantada pela força imponente das suas instalações.
Estive quinze minutos a ponderar se devia deixar uma mensagem no círculo de areia que lá havia e que uma criança atravessara a correr, seguida por uma gaivota, outros quinze a deliciar-me com o reflexo azul do que me pareceu um espermatozóide a entrar num óvulo num laboratório à luz da lua cheia. Olhei de lado e com tom ameaçador uma faca escondida por detrás de uma pedra, esperando o momento em que se espetaria em mim. Esqueci o tempo numa sala enorme onde a música, a água e as palavras projectadas em mim me fizeram apagar tudo o que vamos amamentando a sangue frio.
Como sempre, fui no último dia da exposição, pelo que quem não foi, terá que ir ver a outra cidade.

abril 15, 2005

Bourbon "on the rocks"

abril 13, 2005

Mare nostrum

Olhei o rio e imaginei-o mar. Contei-lhe os nossos contos, lembrei-lhe os nossos tempos. No beijo que te soprei, o rio sentiu-se rei.
Para nós, por nós e sem nós.

Nuestros amis, nuestros amis, nuestros amis

Sampaio foi a França, Sócrates a Madrid. Continuamos a alimentar o mito do bom aluno da integração europeia, apesar da fragilidade das nossas finanças públicas e da divergência da nossa economia com a média europeia.
Somos bons, falamos de igual para igual com quem só nos quer espetar a facadinha final nas costas nas próximas perspectivas financeiras. Fazemos campanha em batalhas perdidas como a do referendo sobre o Tratado constitucional em França, mais uma vez para apanhar os cacos de uma ignorância popular habilmente alimentada.
Na noite de 17 de Junho, estaremos sozinhos na partilha dos despojos do que um dia se chamou política de coesão e que os ricos já não querem pagar. Valer-nos-á a irmã Lúcia.

abril 11, 2005

Malthus "destroce e chega à frente"

Há um fabuloso episódio do “Seinfeld” que gira em torno do acordo tácito que terão os nova-iorquinos – personificados nesse mítico George Costanza – com os pombos no trânsito: o “acordo” estabelece que cabe aos pombos desviarem-se das rodas dos automóveis, tendo como contrapartida a certeza de que nenhum cidadão da Big Apple lhes fará mira militante.
É um acordo de convivência sócio-cultural entre duas pragas: os pombos e… os nova-iorquinos.
Proponho, para Lisboa, um convénio semelhante, desta feita entre as duas pragas de cá: os arrumadores e a rapaziada do tunning.
Suspeito que trataremos de vários problemas de uma só vez…

abril 08, 2005

Vidas I

O momento mais marcante da vida de João Paulo II terá sido o da sua morte.

abril 06, 2005

Slot machine

No dia internacional da mulher, tive um post pronto que acabou por ficar numa gaveta perdida da minha memória porque me lembrei da rapariga ridícula do anúncio da ausónia que dizia que era naqueles dias que gostava de ser mulher. Com a formação do Governo surgiu de novo a oportunidade e remeti-me ao silêncio porque não se argumenta com quem ainda acha que não há mais mulheres em importantes cargos de serviço à nação porque - resumindo-se tudo obviamente a uma questão de tempo, ou de evolução natural - ainda não há mulheres com competências suficientes para os ocupar. Recordo apenas que Margaret Thatcher era a 'token woman' (estava lá só para a fotografia) do Gabinete do Primeiro-Ministro Edward Heath...
E hoje, sem razão aparente - ser mulher permite-nos estas coisas -, apeteceu-me solidarizar com todas aquelas mulheres para quem às 10h da manhã o dia já é tarde, e que já depois da meia-noite se deitam a pensar na máquina de roupa que vai apitar às 3h.
As mulheres não são moedas para as slot machines públicas.

abril 01, 2005

O eterno paradoxo

Avizinham-se tempos difíceis para a relação entre a União europeia e os seus súbditos. Mesmo em países onde os referendos sobre a futura Constituição europeia não levantavam dúvidas há uns meses, cresce o medo de que esta não passe o crivo popular. Os partidários do projecto desmultiplicam-se em discursos contra o défice democrático da UE para, entre dentes, admitir que é um perigo deixar decisões destas nas mãos do povo.

Decidam-se. Nisto dos sentimentos - de amor ou de ódio -, o importante é que se conheça aquilo de que se está a falar para evitar que o ‘Não’ vença por manipulação da ignorância. Já era tempo de apresentar a Europa aos cidadãos.