janeiro 23, 2006

Amona lisa

Portugal é, agora, uma sala de chuto assistido.
Continua a chutar porque gosta mais de se alhear no acidente episódico do que empenhar-se num esforço oxigenado.
Chuta porque ignora que a sensação efémera que lhe traz o gozo frio do castigo é, em si mesma, um vício que incha quem castiga e seca a veia de quem aplaude.
Chuta na Sala de triagem da urgência do progresso prometido mas, como chuta sempre para trás, prefere esperar secretamente que a bola seja Oval e que, num capricho, escape ao guardião até bater na rede.
Chuta assistido, porque supõe ter direito a chutar com dignidade. E é assistido com ânsia para ver se se mantém chutando emprego a quem guarda as chaves da sala.
Ontem, de garrote tenso nos dentes, pressionou o êmbolo da seringa, só até ao primeiro esguicho. Hoje está já de agulha cravada. Esta injecção vai durar 10 anos.

A Loira recusou a metadona, que é um chuto disfarçado contra ventos e marés.

A adrenalina vem aí, por decreto selado.

Espera por mim na esquina

… Assim começou a minha história contigo, convosco, connosco.
Despeço-me, partilhando como sempre partilhei, o que uma brisa suave me sussurra ao ouvido, embalando os dedos.
Ainda e sempre o mar, reflectido em nós vaporosos que se desenrolam ao vento. Ainda e sempre as mãos, salgadas por não sei que lágrimas derretidas ao sol. Guardar-te-ei para sempre, na ponta dos dedos, fotografia digital.

???? - 2006

A noite veio e com ela o cacimbo frio na cama do desespero. Acordar sem ter adormecido.
Pecadores arrependidos viram-na deambular junto ao rio à procura de um consolo boémio. Dizem que trazia um saco com bolos ocos cobertos de calda de açúcar e um pacote de açúcar em pó. Aqueles bolos…
Sentou-se na cama oval, abriu o saco no colo, empanturrou-se, e de um golpe seguro, aspirou o pó. Até ao fim da linha.

janeiro 16, 2006

Finnish dream

"O resultado contradiz todas as sondagens dos últimos seis meses que lhe davam a maioria absoluta à primeira volta." - in DN, 2005.01.16
Disseram-me que o sonho de Sócrates é fazer de Portugal a nova Finlândia da Europa.

janeiro 11, 2006

SS 2014

Sempre tive um problema com homens de cabelo branco cortado ‘à escovinha’... que o Fernando vem agora confirmar.
Então estamos a fazer sacrifícios para nada? As reformas vão mesmo acabar ou ele é que quer acabar com o homem das reformas?

janeiro 10, 2006

Lembrete

A Loira também não esquece as palavras do Professor Cavaco num comício há uns anos no Alentejo quando disse que ‘os alentejanos podiam ser tão bons como os Portugueses’.
Talvez por isso nos ande a tentar convencer que deveríamos ser tão bons como os Espanhóis. Se o Cavaco é português, então eu quero ser espanhola. Pim, pam, pum.

Altos patrocínios

Era para nem se ter lançado na corrida.
Não tinha e não queria patrocínios, além do de Maria.
Assim começou Aníbal, depois de uma longa travessia do deserto.
E o deserto não esquece…

janeiro 06, 2006

Onde fica o botão?

Como se desligam estas imagens sempre iguais que nos invadem a casa sem pedir licença? Dou-me conta que sei pelo menos o nome de 5 cidades iraquianas, que já reconheço a paisagem e as caras dos civis que sucumbem todos os dias naquelas ruas de terra batida.
Alguém sabe voltar atrás? A natureza novamente defraudada, as mortes assinadas por um ditador tornam-se de repente menos negras do que aquelas que levam a chancela do poder externo.
Entretanto, Sharon definha e todos rezam pela alma do grande pacifista. O mundo não passa sem um muro. É a arte, estúpido!