janeiro 30, 2005

O Desespero

O assunto que abordei atrás traz-me a uma segunda preocupação.
O que está em causa agora, nestas eleições em que a dúvida que resta em aberto é, aparentemente, a de saber se o PS ganha com maioria absoluta ou relativa, não é já apenas a questão da estabilidade governativa de um projecto a quatro anos. Passou também a ser a do julgamento de uma forma particular de fazer política.
Essa forma particular não tem nada que ver com diferenças ideológicas ou programáticas, e com o balanço (sempre legítimo) que dessas diferenças se faz. Tem, ANTES, que ver com o nível de processos a que os agentes políticos estão dispostos a recorrer na procura de um qualquer resultado – seja uma vitória eleitoral, seja, como parece ser o caso do PSD, o da mera salvação de uma direcção partidária.
A política não pode deixar de ser a actividade de trabalhar, de procurar, de insistir no contributo para o progresso de uma comunidade. Quando passar a ser a actividade de trabalhar, de procurar, de insistir no contributo para uma vitória eleitoral ou para a salvação de uma direcção partidária, então estamos, na minha opinião, perdidos.
E a adenda: o recurso de Santana Lopes a este tipo de expedientes só deixa à mostra o seu desepero cada vez mais evidente. Mais: é um tiro no pé – se é com este tipo de assuntos que pretende atingir o seu principal adversário, então alguém lhe devia explicar que com esta jogada de canhestre aliena a mobilização de boa parte do eleitorado urbano indeciso, precisamente, para o seu partido rival. Qualquer dia explico-vos como o PSOE foi francamente penalizado, nas sondagens e quase nas urnas, por desafiar Rajoy a assumir-se homossexual. E era muito bem feito.