janeiro 12, 2005

Jogadas Morais

Já não sei o que me impressiona mais: se o terceiro-mundismo de um ministro que aproveita o que julga ser a apatia generalizada para ir à grande de férias com uns amigos, às custas de todos menos do próprio (devo dizer que se alguma graça achei ao episódio foi na resposição da honra do dito garantindo ter pago as despesas extra), se o hipnotismo de nos termos, quase todos, deixado caír na distracção.
Há já algum tempo que os nossos mais credíveis opinion-makers andam a chamar a atenção para a desgenerescência na qualidade dos nossos actores políticos (vejam-se as listas do parlamento), e para a incapacidade angustiadamente perceptível nos partidos (e nomeadamente num PS embalado pelas perspectivas) em atraír a chamada boa-moeda, isto é, aqueles a quem nos gostamos de referir como "os mais capazes" em todos os sectores, da economia e gestão até ao urbanismo.
Perante este episódio sarnento, e, sobretudo, perante o alheamento dos mais atentos (e são tantos na blogoesfera) fica-me sempre a ideia sobre aquilo em que deverão pensar "os mais capazes": falar para quê e para quem? participar em quê se nada de relevante capta a atenção das pessoas, se nada as mobiliza? se o que interessa é o escalpe nominal em vez do progresso real?
Somos campeões a diagnosticar as nossas fraquezas e designadamente o despudor com que utilizamos fundos públicos para serviço próprio e sem nenhum espectro de razão ou moral. E ainda gostamos mais de ver quem anedota melhor no dia seguinte sobre a palhaçada da noite anterior.
E nada anda. O ministro pagou ou pediu desculpas? O PIB cresceu? O défice diminuiu?
Então, apontar-lhe o erro para quê? Apontar também ele sabe. Nomeadamente o polegar para cima à boleia do dinheiro de todos e da da acção de nenhuns dos "mais capazes".
Who's next?...