janeiro 11, 2005

A bomba


O mundo acordou novamente para o Império do meio: a bomba demográfica transformou-se, nas últimas décadas, em bomba económica e ameaça tornar-se uma bomba militar. O gigante chinês põe em causa todos os equilíbrios mundiais, desde a hiperpotência americana - que controla através dos seus défices comercial e federal -, ao comércio (e as indústrias nacionais) e ao ambiente.

A geração MacGyver sabe que uma bomba nunca rebenta assim que é activada. Há que dar tempo aos heróis para desarmá-la. Nós, heróis do mar, como sempre, agimos já depois da bomba ter rebentado. Valha-nos o Senhor Presidente da República, que se deslocou à China, puxando pela mão uma cadeia unida de uma centena de empresários. É a diplomacia económica portuguesa em reacção. Que o comércio de têxteis ia ser liberalizado e que não temos forma de concorrer com os preços chineses, já nós sabíamos desde 1995, não se trata de um acordo secreto; que a economia chinesa é a maior consumidora de energias fósseis e uma acérrima poluidora, também não é novidade; que os Chineses querem (e vão conseguir) levantar o embargo sobre as armas é tão previsível que até o Luís Delgado acertava.

Mais um triste exemplo de como a diplomacia portuguesa continua a ser reactiva, de como continuamos com esta tentação pequenina do ‘damage-control’, a nível mundial e regional. A bomba rebenta, abre-se o debate assim que todas as hipóteses se transformaram em certezas, lança-se uma campanha de mobilização e solidariedade nacional. Na Europa, enquanto nós ainda ponderamos a eventualidade de discutir o Tratado constitucional, já há quem discuta perspectivas financeiras, ou seja, o orçamento comunitário. Não, o importante não são os fundos estruturais. É o orçamento no seu conjunto, é a forma como serve os objectivos, as políticas e os poderes da União. Está tudo sob controlo. Quando a bomba rebentar, mandamos um alto dignatário da nação indignar-se e pedinchar a sopa dos pobres, em nome da sacro-santa coesão económica e social.
Enquanto isso, a Serra da Estrela arde em Janeiro.