dezembro 20, 2004

O Sarilho da República

O Presidente da República está metido num grande sarilho.
As hipóteses de uma maioria absoluta do PS são remotas (como são remotas as hipóteses de qualquer maioria absoluta neste regime) e uma coligação com o PS à cabeça não tem muita viabilidade: porque o PS pode bem não querer formar governo nesta conjuntura e nessas condições; porque uma aliança de governo com o PCP dá quebras de tensão até a Jorge Sampaio; porque o Bloco de Esquerda não quer; porque ninguém compreenderia que fosse com a direita.
Mas não é esse o sarilho do Presidente. O sarilho (em que se meteu em Julho e não agora) é que a única solução que a sua dissolução de Novembro pode viabilizar é uma maioria absoluta do PS. Não se trata de querer favorecer amigos – bem longe disso. Trata-se de não ter à disposição nenhum outro resultado que justifique a sua decisão nas condições e no tempo em que a tomou.
O sarilho é que, segundo o Eurostat, o país está, não na estaca zero, mas pior do que estava em 2001. O sarilho é que se disto tudo resulta nova trapalhada, um governo ilegítimo ou uma governação incapaz de resolver o país então temos o regime em causa. E esse é um grande sarilho para o garante do regular funcionamento das instituições.