dezembro 30, 2004

Fumava ao espelho


Passagem de ano, passagem obrigatória pelo bunker das ideias para um até já. Deixei que me ligassem à máquina, mas cedo desistiram: tudo era Ásia, tudo era água, tudo eram números. Desligaram, mas deixaram-me ficar ali a auscultar as ideias dos outros.

“Coimbraaaa… Tem mais encantooooo… Na horaaaaa…. da des-pe-di-daaaa…”, entoava aquela mulher misteriosa vestida de rosa, fumando um cigarro e olhando-se ao espelho. Nesse mesmo espelho, vi reflectido um silogismo assombrado. Se a morte pode ser variável de afluência às urnas, se a morte só acontece uma vez, se a memória do povo é curta, logo, o único valor acrescentado da pessoa mais próxima dessa morte só pode ser o da sua própria morte.
Não lha desejo. Mas há coisas que não percebo.

Até já.