dezembro 27, 2004

Twelve/Twenty six

Quem já viveu nas paragens remotas por onde a fúria dos elementos mais castiga os vulneráveis compreende duas coisas: a inacreditável lição de que a vida prossegue - imparável, para lá dos números da catástrofe; e de que se não trava uma batalha entre homem e natureza - os dois andam, destroem-se, renascem e fracassam lado a lado.
A vasta maioria das pessoas atingidas por esta maré morta de Natal vai continuar a ter vidas tão frágeis quanto o bambu que sustém as suas casas. Há-de agradecer aos deuses pela compaixão regurgitada pelas placas, poupando algum dos seus. Vai baptizar o Tsunami com deferência e reconstruir, uma vez mais, as caducas existências que preenchem. Tem as terras queimadas pelo sal mas sobreviverá desnutrida como quando estavam férteis.
E terá mais filhos. Amanhã.
Sabe que hoje é carne e algum dia será pedra. E depois água, ou folha, ou..
Esta vasta maioria de seres é mais perene que qualquer “hard-power” Ocidental assente em vigas de aço que subsistem às agressões da água mas claudicam perante as do fogo.