outubro 26, 2004

Voltaram a raptar a Princesa

Por muito que me custe admiti-lo, confesso que me enganei e que é com orgulho que oiço dizer que, José Barroso seja louvado, deixámos de ser os eternos coitadinhos da União europeia e que até já exportamos boas práticas para as instituições comunitárias.

Graças a José Barroso, estamos em quarto lugar no ranking dos Estados-membros com mais funcionários nas instâncias comunitárias - leia-se Gabinetes de Comissários. Quando Barroso abandonar a Comissão, provavelmente poucos restarão daqueles que agora entraram, insisto, para Gabinetes, sem passar nenhum concurso. Mas isso pouco interessa. Viva José Barroso!

A Comissão Barroso será enfim votada esta semana pelo Parlamento europeu e Buttiglione será o próximo Comissário para o Espaço de Liberdade, Segurança e Justiça. No humilde exercício das suas funções, terá que tomar decisões em matérias tão prosaicas como as liberdades individuais – não foi ele que disse que a homossexualidade era pecado? - ou a imigração – não apoiou ele a ideia de criação de ‘campos de espera’ para putativos imigrantes, nos seus países de origem? Como mulher, não aceito que se vote num senhor que hoje, em pleno século XXI, defende que o lugar das mulheres/esposas, é em casa a educar os filhos. Basta que uma mulher vote a favor desta Comissão para que a Princesa Europa seja defraudada. Mais grave ainda é o facto de Barroso ter conseguido exportar para Bruxelas o que temos de melhor: a duplicação institucional. É bem conhecida a tendência portuguesa para a Administração paralela, esvaziando a Pública, dos seus poderes. Ora, Barroso não arranjou melhor forma de convencer os deputados europeus a votar na ‘sua’ Comissão do que prometer que criaria uma estrutura, sob sua supervisão – o que, diga-se de passagem, nos deixa muito mais descansados -, para fiscalizar eventuais desvios de Buttiglione. Forza José Barroso!

Sexta-feira, se tudo correr bem, encontro marcado em Roma, como em 1957, para a assinatura do Tratado constitucional da União europeia. Europa esperava uma filha, saiu-lhe um filho. Embora não se saiba nem quando, nem como se vai colocar a decisão sobre a sua ratificação aos Portugueses, talvez não fosse má ideia o governo começar a pensar na possível eventualidade de criar uma estrutura inter-, para-, ou extra-ministerial qualquer para trazer este debate para a praça pública. Antes que o resgate pedido pelos raptores da Princesa seja alto de mais.

PC

Notas finais, à la surfista vichyssoise: a primeira para agradecer o empréstimo deste speaker’s corner; a segunda para George Weah – sim, o futebolista -, que se poderá tornar no próximo presidente da Libéria. Hélas, mais um Jorge.

Acho que este nem precisa de comentários. Que maravilha, isto dos blogues. Keizer Soze.