A verdadeira notícia do ano
Tinha que ser uma Mulher. E, mais do que provavelmente, tinha que ser Africana. Nem sequer se trata de reduzir a distinção do Comité Nobel a uma questão de género - depois de Ebadi, é a segunda consecutiva a merecer o prémio e espero que essa coerência não seja inocente.
O que acontece é que apenas uma mulher africana, como Wangari Maathai, pode fazer este tipo de conexão entre a pobreza e o ambiente, dos dois com a Paz, e dos três com a condição humana da mulher, com esta naturalidade e esta força. Fê-lo porque nasceu sabendo que o papel comunitário da Mulher numa sociedade como a queniana, já de si cruelmente injusta para qualquer ser humano independentemente do género, mas não da etnia ou da religião, estaria inevitavelmente destinado a um estado de submissão, se não fosse capaz de garantir o desenvolvimento sustentável de toda a sociedade, com as próprias mãos.
Sofreu, apanhou, foi presa, mas ficou, com a perenidade das árvores, para explicar aos energúmenos exploradores da pobreza que grassam pela cúpula dirigente (indigente, mas é) daquele país - todos homens, aliás - que nenhuma mulher do mundo pode ser reduzida à responsabilidade de providenciar o alimento (como se isso fosse pouco). Nem a limitar-se a alimentar, sequer: porque têm uma comunhão especial com outra Mulher que é a Terra (nem por acaso é mãe, não é pai) ainda se dão ao luxo de fazer por garantir que hão-de perpetuar esta função. É que os seus filhos, e os filhos deles, também são homens. E hão-de fazê-lo independentemente da recompensa, como todas as Mulheres.
Fê-lo com uma generosidade e uma capacidade que vai além do género e mesmo do génio de muitas cabeças tão respeitadas por esse mundo desenvolvido fora (sabiam que Bush estava proposto na lista preliminar do Nobel, sabiam??). Já fez esta senhora mais pela nossa vidinha a espalhar sementes, do que qualquer cabeça wolfowitziana a elaborar teorias sobre preemptive attacks.
Curvo-me, limitado, com vergonha por não poder pôr uma imagem (o computador não está apetrechado para o efeito), e... pelo género...
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