outubro 04, 2004

Um Partido maduro

Curiosamente, é com esta sensação de unanimismo volátil e de união da máquina partidária do PS em nome da conquista do poder - e isso foi inequívoco neste fim de semana - que me atingiu a certeza de que os Partidos, não apenas os de esquerda - não apenas os portugueses - se dirigem para a sua própria implosão.
O que o PS afirmou neste Congresso foi o cerrar de fileiras (muitas) - o que correu muito bem - adiando tudo aquilo que tem por esclarecer dentro de si próprio (que é bastante) - e que pode vir a correr mal.
A actual estrutura dos Partidos vai desaparecer, essencialmente, porque não está desenhada para responder a dois novos desafios: primeiro o da vanguarda na mobilização dos cidadãos em torno de causas estruturantes e na catalização da participação meramente cívica em sociedade; segundo o da comunicação programática e do seu ajuste face à pressão mediática.
O primeiro é um fenómeno endógeno aos Partidos que só estão habilitados a fazer estas manobras típicas de unanimismo em torno de um líder, varrendo para debaixo do tapete as ambições (também) legítimas daqueles que não afinam com a linha dura de uma direcção, e que por isso se traduz num remédio que não cura a doença - só atenua os sintomas. O segundo é uma inevitabilidade exógena a todas as formas de organização, sendo que as organizações partidárias estão muito desapetrechadas para lhe responder e em vez de terem a capacidade de criar um espaço de visibilidade para a sua mensagem, estão a fazer simplesmente o contrário: a adaptar a mensagem ao espaço de visibilidade que, porventura, os media lhes concedam.
E o requinte de malvadez é aquilo que em resultado destes dois obstáculos se pode observar na dinâmica dos Partidos, mais precisamente quando há sucessão no poder dentro deles:
no fundo, no fundo, a única linha condutora ao poder é a amizade. Não a amizade de que fala este post da Inês mas uma espécie de promiscuidade estratégica com eternos líderes do back-stage entronizados num perfume de poder nublado em nome não se sabe bem de quê, ou, em se sabendo, do aparelho. Ninguém me é capaz de negar que todos os militantes dos partidos, de delgados a Congressos a dirigentes de estruturas locais, não desenvolvem amizades interessadas em função, sempre, da melhor forma de proximidade ao poder que está, ou que esteja de uma próxima vez. Uns com os outros, com a imprensa, com dirigentes dos outros Partidos...
Há é uns quantos que o fazem com sacrifício, e outros que se sacrificam para o fazer. É a única diferença. Mas não traz muita esperança. Só deslegitima mais e mais os partidos aos olhos de uma opinião pública que, no caso da nossa, é completamente apática e inerte, mas não deixa de ter uma sensibilidade apuradíssima para estes malabarismos - que normalmente castiga. É aquilo que os dirigentes políticos chamam de maturidade do eleitorado. Não deixa de ter graça...