agosto 09, 2004

Nandrolona Kodak

De vez em quando parece-me que o ser humano (este, com letra minúscula, os "nós" de todos os dias) não pode ser a entidade épica, cavalgante em permanente fulgor e em constante progresso. Andamos todos a fazer pela vida, e de caminho, ou lutamos por ver o dia a chegar ao fim ou temos fome de fazer História. Ou somos número de identificação fiscal ou, sozinhos, fazemos crescer o PIB. Dia de ter "tesão" durante 3.2 microsegundos por uma sombra no metro, ou de nos virarmos pelo avesso por gente de cor diferente num deserto de afinidades qualquer. De escrever um "post" ou de pintar uma "Guernica".
A vida é como andar a pé em Lisboa.

Conheço alguns heróis, o que é bom. E conheço daqueles heróis que perante o input mais infantil perdem a capa. E não deixam de ser heróis por isso - o que é melhor.
De cada vez que me afogo na "vidinha" de expediente, tento sempre lembrar-me de chegar às cinco da tarde, levantar os olhos para ele, que tem na mão um regador cuja utilidade para a vida descobriu nesse dia, e para ela que está em pose de boxeuse romântica, de sobrolho preparado e desafiante.
Alguém, felizmente, se lembrou de paralisar o tempo naqueles momentos e imortalizar em película o minuto mais importante das vidas deles. Até àquele minuto, pelo menos.
Não sou pai de nenhum dos dois.
Mas de cada vez que me afogo na "vidinha" de expediente e me lembro de fazer isto, às cinco da tarde, sinto a capa nas costas...
... e assento num papel que amanhã vou a Guantanamo dar uns tabefes numas patentes.