agosto 06, 2004

Making-up




Há momentos de luz.

Passo a reproduzir um testemunho que me foi dado por uma Senhora que me tentava vender a revista Cais no Bairro Alto. Trata-se de alguém com, aproximadamente, 45 anos, licenciada em História, articuladíssima acima da média, enfim... uma pessoa normal que, por razões que não vou reproduzir, viu a sua vida a encaminhar-se para a necessidade de ter de recorrer à Cais.
Contava-me ela que no princípio da sua "carreira" como vendedora da referida revista, tinha por hábito o de assaltar figuras conhecidas em ocasiões de exposição mediática, sempre diante da comunicação social que estivesse presente - estão a ver: numa de "Não me diga que vai ter a coragem de não auxiliar uma pessoa em carência, ainda por cima à frente desta câmara de televisão!".
A dada altura perguntei-lhe nomes. Responde ela:
-"A Betty Grafstein (ndb: mulher desse, para sempre nosso, José Castelo Branco) recusou-se a comprar, eu contei aos fotógrafos, isto apareceu numa revista, e no dia seguinte a Associação recebeu um donativo de 100 euros da dita!"
Deu-me a curiosidade: "Então e políticos?" Atira-me ela:
-"Oh! Quando ía ao São Carlos, o Guterres via-me à saída e vinha logo de nota de 5 na mão com medo que o vissem a fugir;
O Ferro não tinha paciência para me aturar, nem para aturar jornalistas, e portanto delegava a função na mulher - o que é bom, porque pelo menos eu não ficava a arder com os meus 2 euros;
O Sócrates é que era lindo..."-Porquê?! interrompi, esperançado num "estilo novo" na abordagem das vicissitudes dos desprotegidos. Respondeu:
-"Esse vinha ter comigo, de nota de 10 na mão, dizia que não queria a porcaria da revista, mas exigia que eu fose aos fotógrafos dizer que ele a tinha comprado".É uma resposta elucidativa.
Mas não é de esquerda.

Nem me cheira que seja muito moderna...